No Ceará é assim:

Gênero, dissidência e tradição na (re)invenção da feminilidade em concursos de beleza gay

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-864X.2021.1.38152

Palavras-chave:

concursos de beleza gay, memória, Tradição

Resumo

Este trabalho aborda aspectos da história das dissidências de gênero e sexualidade no Nordeste Brasileiro, de forma a compreender como as pessoas transgêneras reconstroem sentidos de feminilidade, masculinidade e tradição. Para tanto, investiga-se a rede de concursos de beleza gay cearenses, partindo de seu contexto contemporâneo e adentrando as memórias daqueles que protagonizaram as primeiras edições, na década de 1950. A metodologia desenvolvida foi de base etnográfica, alinhando-a ao emprego da história oral. Recorreu-se, ainda, às notícias de jornais impressos e ao acervo pessoal preservado por produtores e artistas trans. Nesse sentido, constatou-se que os concursos de beleza gay alimentam um imaginário cearense voltado às dissidências de gênero e sexualidade, de maneira interligada aos setores do ramo da beleza. Além disso, esses certames representam espaços de militância e fontes de visibilidade e positivação das transgeneridades. Em contrapartida, observa-se a perseguição de um padrão de beleza referente a uma “feminilidade espetacular”, reiterando padrões hegemônicos e incorrendo em disputadas por legitimidade. Por fim, compreende-se a construção paulatina de um imaginário sobre o Ceará e sobre outras regiões do país, em especial a nordestina.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marina Leitão Mesquita, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral, CE, Brasil

Doutora em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, PE, Brasil; professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, CE, Brasil.

Referências

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Nordestino:

invenção do ‘falo’: uma história do gênero masculino

(1920-1940) São Paulo: Intermeios, 2013.

AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

BENEDETTI, Marcos. Toda feita: corpo e gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BENTO, Berenice. O que pode uma teoria? Estudos

transviados e a despatologização das identidades trans.

Revista Florestan, ano 1, n. 2, nov. 2014. Disponível em:

http://www.revistaflorestan.ufscar.br/index.php/Florestan/article/view/64/pdf_25. Acesso em: 30 abr. 2020.

BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, Campinas, n. 26, jan./jun. 2006.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e documentos para a história de Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, 2010.

DUQUE, Tiago. Montagens e desmontagens: desejo, estigma e vergonha entre travestis adolescentes. São Paulo: Annablume, 2011.

FACCHINI, Regina. Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

GOFFMAN, Erving. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2011.

GREEN, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. Tradução de Cristina Fino e Cássio Arantes Leite. São Paulo: Editora UNESP, 2000

GREEN, James; QUINALHA, Renan. Ditadura e homossexualidades. Repressão, resistência e a busca da verdade. São Paulo: Edufscar, 2014.

GREEN, James; LIMA, Andréa Moreira; MACHADO, Frederico Viana. Revolucionário e gay: identidades inconciliáveis? Entrevista com James Green. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, n. 32, maio 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822020000100600. Acesso em: 30 abr. 2020

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representações da UNESCO no Brasil, 2003.

HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, Donna et al. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

JAYME, Juliana Gonzaga. Travestis, Transformistas, Drag queens, Transexuais: Personagens e Máscaras no cotidiano de Belo Horizonte e Lisboa. 2001. Tese (Doutorado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

LEITE JÚNIOR, Jorge. Transitar para onde? Monstruosidade, (des)patologização, (in)segurança social e identidades transgêneras. Revistas de Estudos Feministas. v. 20, 2012.

MACRAE, Edward. Os respeitáveis militantes e as bichas loucas. In: COLLING, Leandro (org.). Stonewall + 40 o que no Brasil? Salvador: EDUFBA, 2011.

MARCUS, George E. O que vem (logo) depois do “PÓS”: o caso da etnografia. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 37, p. 7-34, 1994.

MISKOLCI, Richard. Não somos, queremos – reflexões queer sobre a política sexual brasileira contemporânea. In: COLLING, Leandro (org.). Stonewall + 40 o que no

Brasil? Salvador: EDUFBA, 2011.

MOTT, Luiz. Homossexualidade: uma história tabu e uma cultura revolucionária. ArtCultura – Revista do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura, Uberlândia, v. 4, n. 4, p. 111-122, 2002.

MOORE, Henrietta. Fantasias de poder e fantasias de identidade: gênero, raça e violência. Cadernos Pagu, Campinas, n. 14, p. 13-44, 2000.

NASCIMENTO, Silvana de Souza. Variações do Feminino: circuitos do universo trans na Paraíba. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 57, n. 2, 2014.

NOLETO, Rafael da Silva. “Brilham estrelas de São João!”: notas sobre os concursos de “Miss Caipira Gay” e “Miss Caipira Mix” em Belém (PA). Sexualidad, Salut y Sociedad – Revista Latinoamericana, Rio de Janeiro, n. 18, p. 74-110, 2014.

OCHOA, Marcia. Queen for a dayn: transformistas, beauty queens, and the performance of femininity in Venezuela. Durham/London: Duky University Press, 2014.

OCHOA, Marcia. A moda nasce em Paris e morre em Caracas. In: MISKOLCI, Richard; PELÚCIO, Larissa (org.). Discursos fora da ordem: sexualidades, saberes e direitos. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2012.

PELÚCIO, Larissa; MISKOLCI, Richard. A prevenção do desvio: o dispositivo da Aids e a repatologização das sexualidades dissidentes. Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latinoamericana, Rio de Janeiro, n. 1, 2009.

PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, [S. I.], v. 11, n. 2, jul./dez. 2008.

SILVA JUNIOR, Aureliano. Para uma história dos concursos de beleza trans: a criação de memórias e tradição para um certame voltado para travestis e mulheres

transexuais. Cadernos Pagu, Campinas, n. 50, 2017.

STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na melanésia. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009.

STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

RODRIGUES, Marcelo Carmo. Miss Brasil Gay, polêmica na passarela. Eventos como instrumento de comunicação alternativa. 2008. Dissertação (Mestrado em

comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFJF, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2008.

SCOTT, Joan W. O enigma da igualdade. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 1, jan./abr. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_

arttext&pid=S0104-026X2005000100002&lng=pt&tlng=-pt. Acesso em: 30 abr. 2020.

STOLCKE, Verena. O enigma das interseções: classe, ‘raça’, sexo, sexualidade: a formação dos impérios transatlânticos do século XVI ao XIX. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n. 1, jan./abr. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2006000100003&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 30 abr. 2020.

WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: NUNES, Edson de Oliveira. A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

VERAS, Elias Ferreira. Carne, tinta e papel: a emergência do sujeito travesti público-midiatizado em Fortaleza (CE), no tempo dos hormônios/farmacopornográfico. 2015. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

Downloads

Publicado

2021-04-26

Como Citar

Mesquita, M. L. (2021). No Ceará é assim:: Gênero, dissidência e tradição na (re)invenção da feminilidade em concursos de beleza gay. Estudos Ibero-Americanos, 47(1), e38152. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2021.1.38152

Edição

Seção

Dossiê: História das Mulheres, das relações de gênero e das sexualidades dissidentes - Vol. 47, n. 1