O racismo científico no Brasil

Os discursos discriminatórios nas gêneses das Escolas de Direito e Medicina e o uso do título de doutor nas profissões

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43565

Palavras-chave:

raça, racismo científico, miscigenação

Resumo

O presente ensaio tematiza o racismo científico brasileiro e os percursos aqui eleitos têm como objetivo evidenciar os discursos discriminatórios nas gêneses das Escolas de Direito e Medicina, e a sua apropriação do título de doutor nessas profissões. De recorte teórico bourdieusiano, utiliza-se a Sociologia Reflexiva para analisar os discursos inerentes à constituição da ciência brasileira a partir de seu histórico racista de eugenia e considerações sobre miscigenação e o mito da democracia racial. Nesse sentido, há uma reflexão sobre os momentos de tensionamentos das relações étnico-raciais brasileiras, especialmente quando se apoiam nas alocuções biologistas. Dessa forma, houve uma conexão com o passado, principalmente no período pós-abolicionista e as influências do darwinismo social no fazer científico e formativo das escolas analisadas nesse estudo. Embora o racismo científico não tenha influenciado exclusivamente as Escolas de Direito e Medicina no Brasil, o enredo com foco nessas duas áreas do conhecimento e profissões conduz o leitor a refletir sobre um contexto particular até as propriedades mais gerais, interrogando constantemente o objeto e estabelecendo assim uma conexão com o uso da Sociologia Reflexiva. Logo, o texto está dividido em três seções, além da introdução e conclusão, a saber: no primeiro momento, é apresentado o mito da democracia racial e como ele foi constituído no país; na sequência, é abordado como ocorreu a miscigenação e quais as implicações do racismo científico; e, por fim, nas últimas seções do artigo, são evidenciadas as fraturas dos discursos discriminatórios nas gêneses formativas de ambos os cursos. Quanto aos resultados, destacam-se os modos como a ciência é pensada e hierarquizada, desconsiderando o conhecimento e saberes de uma sociedade multiculturalista, plurirracial e não branca. 

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Biografia do Autor

Priscila Thayane de Carvalho Silva, Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Manaus, AM, Brasil.

Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus, AM, Brasil. Assistente Social no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), em Manaus, AM, Brasil. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus, AM, Brasil. 

Camila Ferreira da Silva, Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Manaus, AM, Brasil.

Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Nova de Lisboa (UNL, Bolsa Erasmus Mundus), em Lisboa, Portugal. Pós-doutorado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Santa Catarina, Brasil. Professora Adjunta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFAM), em Manaus, AM, Brasil. Líder do Grupo de Pesquisa em Sociologia Política da Educação (GRUPESPE/UFAM).

Fernanda Cavalcante Gama, Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Manaus, AM, Brasil.

Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil. Atualmente, bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), em Manaus, AM, Brasil.

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Publicado

2022-12-07

Como Citar

Silva, P. T. de C., Silva, C. F. da, & Gama, F. C. (2022). O racismo científico no Brasil: Os discursos discriminatórios nas gêneses das Escolas de Direito e Medicina e o uso do título de doutor nas profissões. Letras De Hoje, 57(1), e43565. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43565

Edição

Seção

Dossiê: Discursos Discriminatórios como Fratura da Sociedade Brasileira