Oscar Wilde e a Escrita do Cárcere
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43089Palavras-chave:
Oscar Wilde, literatura vitoriana, escrita prisional, poder disciplinar, homossexualidadeResumo
Este artigo examina textos que Oscar Wilde (1854-1900) escreveu durante sua pena em Reading Gaol (1895-1897) à luz de teorias contemporâneas sobre a escrita do cárcere a fim de identificar como a rotina e a crueldade de seu confinamento o levaram a novas formas de saber sobre si mesmo – em particular, à sua constatação de uma semelhança entre o seu sofrimento e o sofrimento de Cristo. Este artigo irá mostrar como essa constatação consiste em um processo autoconsciente de reconcepção de si mesmo – isto é, um processo segundo o qual ele toma consciência não apenas do sujeito que era antes de ser condenado, mas também do sujeito no qual está se tornando sob as pressões de um poder punitivo e disciplinar. Tal discussão será centrada na sua carta confessional De Profundis, mas também serão examinados textos seus menos discutidos no meio acadêmico brasileiro, como Children in Prison and Other Cruelties of Prison Life, ensaio que enviou ao editor do Daily Chronicle após sua libertação para denunciar a crueldade com que a prisão em que estava tendia a punir os internos mais jovens. Para além de examinar textos seus ainda subanalisados em relação às suas obras de ficção e poesia, este artigo busca expor uma dimensão da sua personalidade que, sujeita ao cotidiano e às pressões de um sistema carcerário, mostra-se muito mais frágil e dócil do que a do mordaz dândi e a do artista estrela cujas excentricidades acabaram por fazer com que a justiça vitoriana enfim o condenasse à prisão por indecência.
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