“Eu e meus alunos-cotistas na escola pública”: racismo, ethos discursivo, discurso midiático e produção de subjetividade
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2019.3.35764Palavras-chave:
Ethos. Racismo. Mídia. Alunos-cotistas. Cefet/RJ.Resumo
Nosso objetivo, neste artigo, é propor uma análise discursiva de texto produzido por docente do Cefet/RJ, que deflagrou polêmica nas redes sociais. O depoimento da professora, que viralizou nas redes sociais, sobre experiência com alunos cotistas do Ensino Médio, em um primeiro momento, foi acolhido como um relato emocionado e emocionante, resultado de postura “empática e generosa”. Posteriormente, entretanto, ao ser ‘republicado’, passou a ser lido como fruto do racismo estruturante que organiza as relações sociais no país e sua autora vista como uma pessoa racista. Com foco na materialidade do discurso e seus efeitos de produção de subjetividade e em uma dada qualidade de real(idade) (ROCHA, 2006), buscamos problematizar sentidos que se constroem, na contemporaneidade, a partir da tensão entre discursos racistas e antirracistas, na construção de um ethos (MAINGUENEAU, 1997, 2006, 2006, 2008) de professora que aponta para uma figura que surge para salvar os alunos cotistas – que são necessariamente negros segundo o senso comum – numa evidente visão de mundo racista, que opõe professora e alunos aos ‘cotistas’.
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