Fronteiras de um mundo insólito: olhares estrangeiros sobre uma varanda híbrida
DOI:
https://doi.org/10.15448/1983-4276.2014.1.15217Palavras-chave:
Insólito Ficcional, Personagens, Hibridismo, Fronteiras, TrânsitosResumo
O trânsito entre nações e os conflitos por ele gerados são diálogos comuns na atualidade. Em Moçambique, o processo de configuração de nação/nacionalidade não ocorre de modo diferente. Ali, tem-se, porém, um agravante denunciado por Mia Couto – tanto em sua ficção, quanto em seus textos de opinião –, que se refere a diversidades de origem, até mesmo àquelas de foro linguístico – nesse caso, além da multiplicidade de línguas aborígenes, verifica-se, ainda, uma intravariedade na realização da língua portuguesa, que o escritor explora em suas “brincriações”. Nessa perspectiva, pode-se ler A varanda do frangipani, de Mia Couto, à luz dos conceitos de hibridismo, fronteiras e trânsitos – formação constitutiva do caráter de ruptura da obra, devido à irrupção do insólito ficcional, no campo fronteiriço da cultura. Mia Couto exercita uma escrita contra-hegemônica, sustentada no jogo intercambiante do olhar – quem, de onde, para onde, com que intenção, com que estratos de formação sociocultural olha e o que olha. ***************************************************** Frontiers of an unusual world: foreign views from a hybrid balcony The movement between nations and the conflicts it generates are common themes nowadays. In Mozambique, the process of configuration of nation/nationality is not different. There is, however, an aggravation of such process as pointed out by Mia Couto in his fiction and in his opinion texts: the diversity of origin and the linguistic diversity. Aboriginal languages, and varieties of the Portuguese language, which the writer explores with great skill in his “brincriações”. From this perspective Mia Couto, A varanda do frangipani, can be read in the light of the concepts of hybridism, borders and transit as the constitutive character of rupture of his work, due to the eruption of the Fictional Uncommon and as a reference for the observation of the “inside” and “outside” elements in the field of hybrid culture. Mia Couto exercises a counter-hegemonic written experience, sustained by the game of interchangeable views – who, where, where to, with what intention, and from what socio-cultural ackground one observes and is observed. Keywords: Fictional Uncommon; Characters; Hybridism; Borders; Transits
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