A teoria da carnavalização e o romance Ensaio sobre a cegueira – ou por que ler Saramago
DOI:
https://doi.org/10.15448/1983-4276.2022.1.43049Palavras-chave:
Carnavalização, Dialogismo, Mikhail Bakhtin, Ensaio sobre a cegueira, José SaramagoResumo
Para uma leitura reflexiva da obra de José Saramago, sobretudo dos romances construídos a partir de Levantado do chão até Ensaio sobre a cegueira, a teoria da carnavalização (elemento presente nas raízes do gênero romanesco, segundo os estudos de Mikhail Bakhtin) constitui um instrumento indispensável. Nesses romances, a teoria marxista da linguagem, desenvolvida pelo filósofo russo, articula-se com os intuitos ideológicos da prosa do celebrado escritor português. O presente artigo tem por objetivo analisar a carnavalização em Ensaio sobre a cegueira: a história de um inédito surto epidêmico que leva uma população à cegueira, com exceção de uma mulher que, não por acaso, é esposa de um médico oftalmologista. Pela voz do narrador onisciente, característico de José Saramago, e pela perspectiva da mulher do médico, são narrados acontecimentos que, para um leitor mais perspicaz, apontam para uma segunda voz, para um diálogo não finalizante, que dá margem a uma segunda interpretação ainda mais reveladora, o que está relacionado ao conceito de dialogismo. Com a virada do século XXI, Bakhtin e a teoria da carnavalização parecem ter sido superados pelas correntes pós-modernas; no entanto, Saramago continua a ser marxista, o que justifica uma investigação sobre aspectos carnavalescos em sua obra.
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