Um sistema de dispersão interdiscursivo

As tensas e desiguais relações entre o discurso institucional e o discurso tradicional no espaço discursivo da pesca

Resumo

Este estudo apresenta a importante intersecção entre conceitos de dois pensadores do funcionamento discursivo, considerados como os pilares na descrição e interpretação da relação conflituosa entre os discursos dos pescadores tradicionais e representantes governamentais da pesca. A priori Michel Foucault (1996, 2012, 2013) embasa a análise das relações de saber e poder no espaço da pesca em duas Unidades de Conservação. No mesmo grau de relevância para a análise deste empreendimento, acrescenta-se os postulados de Dominique Maingueneau (2005, 2008, 2015), para compreender a constituição dos grupos implicados na prática discursiva no contexto do trabalho como ordem institucional que define, pelo que dizem e o que fazem, os sujeitos da pesca dentro das comunidades. Reflete-se sobre a tensão na relação entre discursos e reorganização social da pesca nas Reservas Extrativistas Marinha do Brasil – RESEX- Caeté Taperaçu (PA) e Araí-Peroba (PA). Vislumbra-se, pelo funcionamento discursivo implicado em documentos oficiais e em narrativas de pescadores uma governamentalidade de controle social inscrito na relação entre território, população e segurança, alicerçada na economia política do Estado que exercita o poder no triângulo da disciplina, da soberania e da gestão governamental.