O desterro de ser daqui
Exílio, resistência e decolonialidade na Literatura Brasileira Contemporânea
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.3.39189Palavras-chave:
Violência, Exílio, Decolonialidade, Conceição Evaristo, Carola SaveedraResumo
A narrativa literária brasileira tem apresentado, especialmente nas últimas três décadas, discursos que dialogam com noções do amplo movimento de epistemologias decoloniais da América Latina, principalmente no que tange à (re/des)construção de estéticas orientadas pela hegemonia cultural europeia e à subversão da noção de experiência concebida pela Modernidade. Esses pressupostos guiam o presente estudo, que se dedica à leitura dos romances Becos da memória (2006), de Conceição Evaristo, e Com armas sonolentas (2018), de Carola Saavedra. Da perspectiva das protagonistas, mulheres que se enunciam a partir das subjetividades fronteiriças e se compõem pela vivência e saberes locais, emanam dessas narrativas vozes que, impregnadas pela experiência da violência e do exílio, esse entendido conforme as ressignificações de Said (2003), reinventam as próprias identidades com base na noção de coletividade, confrontando, por essa via, as estruturas hegemônicas e centralizadoras das políticas globalizantes. Além de constituírem severas críticas à retórica excludente da Modernidade, quando problematizam a relação eu/outro e o lugar de fala reservado ao homem branco, esses romances evocam as origens e a ancestralidade, questionando a cadeia de processos que estabelece os lugares de poder cultural e suas forjadas hierarquias.
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