As ideias dentro do lugar
Liberalismo, escravidão e cinismo
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-4301.2020.3.36924Palavras-chave:
Machado de Assis, Escravidão, Liberalismo, Cinismo, RealismoResumo
Os problemas que a escravidão engendrou no cotidiano do capitalismo dependente brasileiro ganham representação na ficção machadiana. Roberto Schwarz, na década de 70, publicou o ensaio “As ideias fora lugar”, no qual o crítico procurou descrever aquilo que taxou de “comédia ideológica” nacional, que se caracterizaria pela importação, sem mediações, de ideias emanadas da Europa e dos EUA pelas oligarquias do País no Oitocentos. Essas ideias, supostamente, contrastavam com a realidade nacional, uma vez que, a exemplo do liberalismo e da escravidão, encontravam entraves com as forças produtivas brasileiras, gerando uma espécie de “cacoete ideológico”, um “torcicolo cultural”. O presente artigo abordou a peculiaridade com qual Machado de Assis plasmou a escravidão em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), a partir da estetização da violência proporcionada pelo metabolismo semicolonial da sociedade brasileira na perspectiva das elites nacionais, ironizadas pelo Bruxo do Cosme Velho. Considerou-se como metodologia de pesquisa o cotejo bibliográfico da fortuna crítica machadiana, das contribuições das teorias literárias e da sociologia, como John Gledson, György Lukács, Octavio Ianni etc. Os resultados do problema ora tratado, a peculiar figuração do liberalismo e da escravidão na obra de Machado, distanciaram-se, assim, das conclusões de Roberto Schwarz no artigo supracitado.
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