Desastre nuclear, espaço e trauma
Uma oração à Tchérnobil a partir de Svetlana Aleksiévitch
DOI:
https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.2.37848Palabras clave:
desastre nuclear de Tchérnobil, Svetlana Aleksiévitch, traumaResumen
O presente artigo pretende analisar o desastre nuclear de Tchérnobil, ocorrido em 1986 entre a fronteira da Ucrânia e da Bielorrússia. Seu objetivo é compreender como os efeitos da radiação transformaram Tchérnobil e seus arredores em “zonas contaminadas”, o que sugere uma espacialidade traumatizada. Para tanto, se recorreu a uma discussão, da área de psicologia, a respeito do trauma, sobretudo a partir de uma temporalidade e de uma linguagem traumática. Dessa forma, os efeitos dos radionuclídeos no ambiente, que por vezes fazem “a vida” e “a morte” se confundirem na silenciosa guerra radioativa, corroboram a interpretação de que, em termos naturais e físicos, o desastre nuclear é um exemplo de como o ser humano atualmente atua como agente central de modificação ambiental. Assim, recorreu-se às análises de Hannah Arendt a respeito dos avanços técnicos da Revolução Atômica e a conquista do espaço. Nesse sentido à luz dos debates do Antropoceno, o desastre nuclear demonstra a capacidade técnica de destruição ambiental –ou de autodestruição do nosso planeta – pela humanidade. Para um entendimento sobre a relação das testemunhas com o espaço contaminado, propõe-se uma leitura do acontecimento a partir do livro Vozes de Tchérnobil, da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, em diálogo com os estudos científicos das áreas radiológica e química.
Descargas
Citas
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear. São Paulo: Cia das Letras, 2016a.
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. São Paulo: Cia das Letras, 2016b.
ANDRADE, Fernando; MAIA, Luís. Nachträglichkeit: leituras sobre o tempo na metapsicologia e na clínica. Estudos de Psicanálise, Aracajú, n. 33, p. 75-90, jul. 2010.
ARENDT, Hannah. Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 7. ed. 2. reimpr. São Paulo: Perspectiva, 2014.
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Editora da UNICAMP, 2011.
ÁVILA, Arthur Lima de; NICOLAZZI, Fernando; TURIN, Rodrigo (org.). A História (in)disciplinada: teoria, ensino e difusão do conhecimento histórico. Vitória: Editora Milfontes, 2019.
BAKER, Robert; CHESSER, Ronald. The Chernobyl Nuclear Disaster and Subsequent Creation of a Wildlife Preserve. Environmental Toxicology and Chemistry, Durham, v. 19, n. 5, p. 1231-1232, 2000. https://doi.org/10.1002/etc.5620190501
BATTEAU, Allen W. Aggressive Technology in a Century of Industrial Disasters. Practicing Anthropology, Oklahoma, v. 23, n. 4, p. 28-32, 2001. https://doi.org/10.17730/praa.23.4.p46445vr754r2507
BELAYEV et al. Characteristics of the development of the radiological situation resulting from the accident, intervention levels and coutermeasures. In: KARAOGLOU, A; DESMET, G; KELLY, G. N.; MENZEL, H. G. (org.). The Radiological Consequences of the Chernobyl Accident. Brussels: European Comission, 1996. p. 19-28.
BOICE, J. D. Leukaemia, Chernobyl and Epidemiology. Journal of Radiological Protection, Manchester, v. 17, n. 3, p. 129-133, set. 1997. https://doi.org/10.1088/0952-4746/17/3/001
BRENCIO, Francesca; NOVAK, Kori D. The continuum of Trauma. In: SCHAUB, D.; LINDER, J.; NOVAK, K.; TAM, S.;
ZANINI, C. (org.). Topography of Trauma: Fissures, Disruptions and Transfigurations. Leiden: Brill l Rodopi, 2019. p. 11-24. https://doi.org/10.1163/9789004407947_003
CASELLATO, Alessandro. Il mestiere della storia orale. Stato dell’arte e buone pratiche. Archivo Trentino, Trento, v. 1, p. 75-102, 2016.
CHAKRABARTY, Dipesh. O clima da história: quatro teses. Sopro, Florianópolis, n. 91, p. 1-22, jul. 2013.
FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed.34, 2006.
HERING TORRES, Max Sebastián. Limpieza de Sangre: ¿racismo en la edad moderna? Tiempos Modernos, Madrid, v. 4, n. 9, p. 1-16, 2003.
IEIA. The International Chernobyl Project Technical Report. Vienna: International Atomic Energy Agency, 1991. 640 p.
JOHN, Elwin Susan. (Un)Heard Voices: Trauma and Reconfigurations of the Body. In: O’DONNELL (org.). Ruptured Voices: Trauma and Recovery. Freeland: Interdisciplinary Press, 2016. p. 51-59. https://doi.org/10.1163/9781848883727_006
JOHN, Elwin Susan. I Used To Be Human Once’: Trauma and Reconfigurations of the Body in Chemical Disasters. In: SCHAUB, D.; LINDER, J.; NOVAK, K.; TAM, S.; ZANINI, C. (org.). Topography of Trauma: Fissures, Disruptions and Transfigurations. Leiden: Brill l Rodopi, 2019. p. 192-207. https://doi.org/10.1163/9789004407947_012
KOLLERITZ, Fernando. Testemunho, juízo político e história. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 48, p. 73-100, 2004. https://doi.org/10.1163/9789004407947_012
KHOLOSHA, V; SOBOTOVITCH, E; PROSCURA, N; KOZAKOV, S; KORCHAGIN, P. Management problems of the restricted zone around Chernobyl. In: KARAOGLOU, A; DESMET, G; KELLY, G. N.; MENZEL, H. G. (org.). The Radiological Consequences of the Chernobyl Accident. Brussels: European Comission, 1996. p. 339-343.
NANCY, Jean-Luc. L’Équivalance des catastrophes: après Fukushima. Paris Galilée, 2012.
RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Ed. da UNICAMP, 2007.
SAAS, Simeão. A linguagem sartreana. In: CARNEIRO, Marcelo Carneiro; GENTIL, Hélio Salles (org.). Filosofia francesa contemporânea. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. p. 337-347.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e emoção. 4. ed. 9. reimpr. São Paulo: Ed. USP, 2017.
SCHAUB, Danielle. Introduction: Mapping the Topography of Trauma. In: SCHAUB, D.; LINDER, J.; NOVAK, K.; TAM, S.; ZANINI, C. (org.). Topography of Trauma: Fissures, Disruptions and Transfigurations. Leiden: Brill l Rodopi, 2019. p. 1-10. https://doi.org/10.1163/9789004407947
SILVA, Thelma C. da. Silêncios Da Dor: Enfoque Geracional E Agência No Caso Do Desastre Radioativo De Goiânia, Brasil. Iberoamericana – Nordic Journal of Latin American and Caribbean Studies, Estocolmo, v. 46, n.1, p. 17–29, 2017. https://doi.org/10.16993/iberoamericana.104
SILVEIRA, Pedro Telles da. A última voz humana viva: uma leitura de Svetlana Aleksiévitch em um tempo de catástrofes. Revista Vernáculo, Curitiba, n. 40, p. 6-40, 2017. https://doi.org/10.5380/rv.v0i40.49683
SMITH, Jim; BERESFORD, Richard. Chernobyl: catastrophes and consequences. Heidelberg, New York: Springer, 2005.
UNSCEAR. Report to the General Assembly: Sources and effects of ionizing radiation, Vol. II, Annex J. New York: United Nations, [2008]. p. 453-551. Disponível em: http://unscear.org. Acesso em: 14 jul. 2020.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2020 Oficina do Historiador
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
La presentación original de esta revista implica la transferencia, por los autores, los derechos de publicación impresa y digital. Los derechos de autor de los artículos publicados son derechos de autor del boletín de la primera publicación. Autores sólo podrán utilizar los resultados en otras publicaciones, indicando claramente esta revista como medio de publicación original. Porque somos una revista de acceso abierto, permite el libre uso de los artículos en las aplicaciones educativas, científicas y no comerciales, siempre que la fuente sea reconocida (por favor vea la Licencia Creative Commons en el pie esta página).