Dossiê - Imprensa, mídias e regimes políticos ditatoriais

2022-06-14

Organizadores: Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG) e Reinaldo Lohn (UDESC)

Data limite para o envio de artigos: 22/02/2023.

A proposta do dossiê é reunir textos resultantes de pesquisas com foco nas relações entre veículos de imprensa e regimes autoritários. No decorrer do período contemporâneo, em especial nos séculos XIX e XX, a imprensa teve papel chave na constituição de esferas públicas em que se debateram diferentes ideias e projetos políticos. Nesse sentido, os jornais contribuíram de maneira destacada para a construção de regimes políticos liberais, em grande medida legitimados por veículos de imprensa que divulgaram valores caros ao liberalismo. Porém, outros periódicos apoiaram projetos conservadores e/ou autoritários, e atuaram para divulgar os respectivos valores, assim como para conquistar apoio e aceitação para tais regimes políticos entre certos segmentos sociais. De modo geral, as ditaduras implicam desafios para as empresas jornalísticas, mesmo para aquelas mais inclinadas a aceitar as intervenções autoritárias. Os regimes ditatoriais invariavelmente instituem processos de controle sobre as mídias, para evitar a publicação de críticas à situação política e a circulação de informações contrárias aos interesses dominantes. Daí o estabelecimento de medidas para o cerceamento das atividades da imprensa, desde as mais óbvias, como a censura ou o fechamento de jornais, até iniciativas de controle envolvendo gestões econômicas, como a restrição de acesso ao papel jornal e a proibição de publicidade oficial paga, ou até mesmo a encampação de alguns veículos para garantir a publicação de noticiário favorável. Considerando, em traços gerais, os comportamentos da imprensa frente aos estados autoritários, pode-se dizer que houve apoio a tais regimes, mas também resistência em certos casos e circunstâncias, bem como diversas modalidades de atitudes intermediárias. No caso da imprensa brasileira, esta por vezes buscou situar-se em posição central como mediadora de debates e na apropriação e produção de ideias e formulações nos contextos de abertura de regimes políticos autoritários e nas disputas sociais daí advindas, constituindo e legitimando os participantes das negociações em curso.

Assim, o dossiê pretende reunir reflexões voltadas para as diferentes formas de relacionamento e de conexões envolvendo regimes ditatoriais e imprensa, com atenção às mudanças que ocorreram com o passar do tempo. Serão benvindos trabalhos com foco em casos específicos, mas também estudos contemplando escalas espaciais e temporais mais amplas, que propiciem abordagens comparativas ou conectadas, considerando os veículos impressos, mas também o rádio e a televisão, bem como, eventualmente, as novas mídias digitais.