Literaturas do fim do mundo
uma leitura de O Deus das avencas (2021) de Daniel Galera
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44396Palavras-chave:
Literatura distópica contemporânea, Daniel Galera, Democracias em criseResumo
Neste artigo, analisamos como a obra O Deus das avencas (2021), de Daniel Galera, participa de um grupo de narrativas que convencionamos chamar literaturas do fim do mundo – caracterizadas pela composição de enredos distópicos ou pós-apocalípticos que figuram a assunção de regimes totalitários ao poder, a redução de grupos economicamente desfavorecidos à “vida nua”, o aprofundamento da exploração dos recursos naturais e das desigualdades sociais, a precarização do trabalho, a transformação das tecnologias de comunicação em tecnologias de vigilância, controle e repressão, e outros temores surgidos das crises democráticas e fortalecimento do capitalismo liberal. A obra O Deus das avencas (2021) é composta por três novelas que, embora díspares, parecem constituir uma gradação das relações sociais e políticas do país rumo ao esfacelamento das formas de socialidade. A primeira novela, “O Deus das avencas”, apresenta a agonia de um casal que espera o nascimento do filho frente à incerteza dos rumos políticos do país; a segunda, “Tóquio”, narra uma sociedade distópica em que a grave devastação ambiental e a redução drástica das interações humanas soma-se à crença na possibilidade de transferência da consciência a aparatos tecnológicos; a terceira, “Bugônia”, apresenta um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade, na ausência de tecnologias e sob a ameaça de uma patologia contagiosa e letal, retorna a formas tribais de socialidade e, para sobreviver, estabelece uma relação de mutualismo com abelhas. Na análise proposta, dialogamos com pesquisadores que observam o crescimento da produção distópica em diferentes países e contextos sócio-políticos, tais como María Laura Pérez Gras (2017), Eirik Vassenden (2022), Tom Moylan (2018), Jill Lepore (2017), Gregory Claeys (2017), entre outros.
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