A mediação da viola entremundos

metáfora, pensamento analógico e a permanência do real

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44199

Palavras-chave:

Poesia, Metáfora, Pensamento complexo, Viola caipira

Resumo

Na tradição, os violeiros sertanejos atuam como dizentes entremundos, apoiados no conhecimento técnico do instrumento e na sensibilidade analógica com que fazem uma leitura dos vários níveis da realidade. Buscamos flagrar essa dinâmica a partir dos achados poético-musicais de Esbrangente (2003), álbum que evidencia a relação discípulo-mestre estabelecida entre os violeiros Roberto Corrêa, Badia Medeiros, Paulo Freire e Manoel de Oliveira. Contribuem para essa proposta, noções oriundas do pensamento complexo de Edgar Morin e da antropologia pós-estrutural de Eduardo Viveiros de Castro, passando pela estética de Guimarães Rosa, exemplificada pelos contos Cara-de-Bronze e Meu tio Iauaretê. O estudo nos permite concluir que os achados poéticos de Esbrangente repousam em lampejos de pensamento analógico e técnica musical apurada e que os violeiros guardam os traços do poeta, cuja sabedoria permite atravessar os níveis da realidade do sertão.

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Biografia do Autor

Gustavo Falleiros, Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF, Brasil.

Mestre em Inovação em Comunicação e Economia Criativa pela Universidade Católica de Brasília (UCB, Brasília, DF, Brasil). Bacharel em Comunicação pela Universidade de Brasília (UNB, Brasília, DF, Brasil), com habilitação em Jornalismo e em Publicidade. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB, Brasília, DF, Brasil).

Florence Dravet, Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF, Brasil.

Doutora em Didactologia das Línguas e Culturas pela Universidade de Paris 3 Sorbonne Nouvelle (Paris, França). Bacharel em Letras pela Universidade Paul Valéry (Montpellier, França). Professora do Programa Inovação em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília (UCB, Brasília, DF, Brasil).

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Publicado

2023-10-05

Como Citar

Falleiros, G., & Dravet, F. (2023). A mediação da viola entremundos: metáfora, pensamento analógico e a permanência do real. Letras De Hoje, 58(1), e44199. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44199

Edição

Seção

Dossiê: Como narrar o real em tempo pós-reais