Contribuições de Lélia Gonzalez aos estudos sociológicos sobre controle social e punição no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7289.2022.1.40428Palavras-chave:
Racismo por denegação, Lélia Gonzalez, Sociologia da violência, Controle social, PuniçãoResumo
O objetivo deste artigo é realizar um diálogo entre pesquisas empíricas oriundas da sociologia da violência e as discussões conceituais propostas por Lélia Gonzalez, com destaque para o que chamou de racismo por denegação. Para tanto, se debruçará sobre trabalhos que demonstram empiricamente a persistência histórica de uma repressão estatal racialmente seletiva por parte das instituições de segurança e justiça, mas que não reverberaram como paradigmas no campo de estudos sociológicos sobre violência. Para responder à questão sobre as possibilidades do debate conceitual proposto por Gonzalez ser útil à análise de dados empíricos que atestam uma repressão racialmente seletiva, veremos como a autora estava atenta à seletividade que oprimia indivíduos e territórios negros, destacando os modos escamoteados de uma atuação racializada que não se assume enquanto tal.
Downloads
Referências
Adorno, Sérgio. 1995. Discriminação racial e justiça criminal em São Paulo. Novos estudos CEBRAP 43: 45-63.
Alexander, Michelle. 2017. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo.
Alvarado, Arturo. 2020. La Sociología del crimen y la violencia en América Latina: un campo fragmentado. Tempo Social 32 (3): 67-107. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2020.175010.
Alvarez, Marcos César. 2003. Bacharéis, criminologistas e juristas: saber jurídico e nova escola penal no Brasil. São Paulo: Método.
Arendt, Hannah. 1990. Origens do totalitarismo: anti-semitism, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras.
Azevedo, Celia Maria M. de. 2004. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites século XIX. 2. ed. São Paulo: Annablume.
Azevedo, Rodrigo G. de, e Jacqueline Sinhoretto. 2018. Encarceramento e desencarceramento no Brasil: a mentalidade punitiva em ação. Anais do 42o Encontro Anual da Anpocs.
Barreira, César, e Sérgio Adorno. 2010. A violência na sociedade brasileira. In Horizontes das ciências sociais no Brasil. Sociologia, organizado por Carlos B. Martins e Heloisa Helena T. de S. Martins. São Paulo: Barcarolla.
Barros, Geová. 2006. Racismo institucional: a cor da pele como principal fator de suspeição. Dissertação em Ciência Política, Universidade Federal de Pernambuco.
Bento, Maria Aparecida. 2002. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese em Psicologia Social, Universidade de São Paulo.
Borges, Ana Clara D. e Juliana Vinuto. 2020. Presunção da culpa: racismo institucional no cotidiano da justiça criminal em Niterói (RJ). PerCursos 21 (45): 140-72. https://doi.org/10.5965/1984724621452020140.
Borges, Juliana. 2018. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte: Letramento.
Campos, Luiz Augusto. 2017. Racismo em três dimensões : uma abordagem realista-crítica. Revista Brasileira de Ciências Sociais 32 (95): 01. https://doi.org/10.17666/329507/2017.
Chalhoub, Sidney. 1990. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras.
Davis, Angela. 2016. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo.
Flauzina, Ana Luiza. 2006. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do estado brasileiro. Dissertação em Direito, Universidade de Brasília.
Flauzina, Ana Luiza, e Felipe Freitas. 2017. Do paradoxal privilégio de ser vítima: terror de Estado e a negação do sofrimento negro no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Criminais 25 (135): 49-71.
Flauzina, Ana, e Thula Pires. 2020. Supremo Tribunal Federal e a naturalização da barbárie. Revista Direito e Práxis 11 (2): 1211-37. https://doi.org/10.1590/2179-8966/2020/50270.
França, Danilo. 2017. Segregação racial em São Paulo: residências, redes pessoais e trajetórias urbanas de negros e brancos no século XXI. Tese em Sociologia, Universidade de São Paulo.
Gonzalez, Lélia. 2020. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Organizado por Flavia Rios e Marcia Lima. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Gonzalez, Lélia, e Carlos Hasenbalg. 1982. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco Zero.
Grillo, Carolina C. 2008. O “morro” e a “pista”: um estudo comparado de dinâmicas do comércio ilegal de drogas. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social 1 (1): 127-48.
Guimarães, Antônio S. A. 2000. Apresentação. In Tirando a máscara: ensaios sobre o racismo no Brasil, organizado por Antônio Sérgio A. Guimarães e Lynn Huntley. São Paulo: Paz a Terra.
Guimarães, Antonio S. A. 2003. Como trabalhar com ‘raça’ em sociologia. Educação e Pesquisa 29 (1): 93-107. https://doi.org/10.1590/S1517-97022003000100008.
Koerner, Andrei. 2006. Punição, disciplina e pensamento penal no Brasil do século XIX. Lua Nova: Revista de Cultura e Política 68: 205-42. https://doi.org/10.1590/S0102-64452006000300008.
Lima, Márcia. 2012. ‘Raça’ e pobreza em contextos metropolitanos. Tempo Social 24 (2): 233–54. https://doi.org/10.1590/S0103-20702012000200012.
Lima, Márcia. 2014. A obra de Carlos Hasenbalg e seu legado à agenda de estudos sobre desigualdades raciais no Brasil. Dados 57 (4): 919-33. https://doi.org/10.1590/00115258201428.
Machado da Silva, Luiz Antonio. 2011. Entrevista (por Ludmila M. L. Ribeiro). In As ciências sociais e os pioneiros nos estudos sobre crime, violência e direitos humanos no Brasil, organizado por Renato Sérgio de Lima e José Luiz Ratton, 146-175. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública - ANPOCS - Urbania.
Marques, Adalton. 2017. Humanizar e expandir: uma genealogia da segurança pública em São Paulo. Tese em Antropologia Social, Universidade Federal de São Carlos.
Mbembe, Achille. 2018. Necropolítica. 2. ed. São Paulo: N-1.
Medeiros, Flavia. 2017. A necropolítica da guerra: tecnologias de governo, “homicídios” e “tráfico de drogas” na região metropolitana do Rio de Janeiro. Abya-yala: Revista sobre Acesso à Justiça e Direitos nas Américas 1 (3): 91-114. https://doi.org/10.26512/abyayala.v1i3.7119.
Misse, Michel. 2010. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria ‘bandido’. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 79: 15-38. https://doi.org/10.1590/S0102-64452010000100003.
Misse, Michel, Carolina C. Grillo, e Natasha E. Neri. 2015. Letalidade policial e indiferença legal: a apuração judiciária dos ‘autos de resistência’ no Rio de Janeiro (2001-2011). Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social 0 (0): 43-71.
Moura, Clóvis. 1989. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática.
Moura, Clóvis 2021. O negro: de bom escravo a mau cidadão? São Paulo: Dandara.
Nogueira, Oracy. 2007. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo Social 19 (1). https://doi.org/10.1590/S0103-20702007000100015.
Odon, Thiago. 2013. A linguagem penal do contrato social brasileiro: o inimigo, a guerra e a construção da ordem contra a sociedade no Brasil (1822-1890). Tese Sociologia, Universidade de Brasília.
Pires, Thula. 2016. Direitos humanos e Améfrica Ladina: por uma crítica amefricana ao colonialismo jurídico. Lasa Forum 50 (3): 69-74.
Pires, Thula. 2017. Criminologia crítica e pacto narcísico: por uma crítica criminológica apreensível em pretuguês. Revista Brasileira de Ciências Criminais 25 (135): 541-62.
Pires, Thula. 2018. Racializando o debate sobre direitos humanos. Revista Internacional de Direitos Humanos, Sur 28 15 (28): 11.
Pires, Thula Rafaela de Oliveira. 2018. Estruturas intocadas: racismo e ditadura no Rio de Janeiro. Revista Direito e Práxis 9 (2): 1054-79. https://doi.org/10.1590/2179-8966/2018/33900.
Ramos, Alberto Guerreiro. 1995. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora da Uerj.
Ramos, Paulo Cesar. 2017. A formação do campo de estudos da violência no Brasil: estrutura e habitus nas ciências sociais da Nova República. Saberes em perspectiva 7 (17): 95-112.
Ramos, Paulo Cesar. 2021. Gramática negra contra a violência de Estado: da discriminação racial ao genocídio negro (1978-2018). Tese em Sociologia, Universidade de São Paulo.
Ramos, Sílvia, e Leonarda Musumeci. 2005. Elemento suspeito: abordagem policial e discriminação na cidade do Rio de Janeiro. Coleção Segurança e Cidadania, 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Ribeiro, Carlos Antonio C. 1995. Cor e criminalidade: estudo e análise da justiça no Rio de Janeiro, 1900-1930. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Ribeiro, Ludmila, e Klarissa Silva. 2010. Fluxo do sistema de justiça criminal brasileiro: um balanço da literatura. Cadernos de Segurança Pública 2 (1): 14-27.
Rios, Flavia, e Marcia Lima. 2020. Introdução. In Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, interenções e diálogos, organizado por Flavia Rios e Marcia Lima, 9-21. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Rocha, Luciane O. 2014. Outraged mothering: black women, racial violence, and the power of emotions in Rio de Janeiro’s African Diaspora. Tese em Antropologia, Universidade do Texas.
Rodrigues, Juliana, e Juliana Monteiro. 2020. Lélia Gonzalez, uma filósofa amefricana. Revista Ideação 1 (42): 94-105. https://doi.org/10.13102/ideac.v1i42.5460.
Saad, Luísa. 2019. Fumo de negro: a criminalização da maconha no pós-abolição. Salvador: Edufba. e-Book Kindle.
Schlittler, Maria Carolina. 2016. Matar muito, prender mal: a produção da desigualdade racial como efeito do policiamento ostensivo militarizado em SP. Tese em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos
Schwarcz, Lilia M. 1993. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras.
Sinhoretto, Jacqueline, org. 2021. Policiamento ostensivo e relações raciais: estudo comparado sobre formas contemporâneas de controle do crime. Rio de Janeiro: Autografia.
Sinhoretto, Jacqueline, e Danilo de S. Morais. 2018. Violência e racismo: novas faces de uma afinidade reiterada. Revista de Estudios Sociales 64: 15-26. https://doi.org/10.7440/res64.2018.02.
Telles, Edward Eric. 2003. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
Vargas, Joana Domingues. 1999. Indivíduos sob suspeita: a cor dos acusados de estupro no fluxo do sistema de justiça criminal. Dados 42 (4): 729-60. https://doi.org/10.1590/S0011-52581999000400004.
Vargas, Joana Domingues. 2012. Em busca da ‘verdade real’: tortura e confissão no Brasil ontem e hoje. Sociologia & Antropologia 2 (3): 237-65. https://doi.org/10.1590/2238-38752012v2310.
Vargas, João H. Costa. 2005. Apartheid brasileiro: raça e segregação residencial no Rio de Janeiro”. Revista de Antropologia 48 (1): 75-131. https://doi.org/10.1590/S0034-77012005000100003.
Vasconcelos, Francisco Thiago. 2014. Esboço de uma sociologia política das Ciências Sociais contemporâneas (1968 2010): a formação do campo da segurança pública e o debate criminológico no Brasil. Tese em Sociologia, Universidade de São Paulo.
Vinuto, Juliana. 2020. “O outro lado da moeda”: o trabalho de agentes socioeducativos no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Autografia.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Civitas: revista de Ciências Sociais
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais e científicas, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no rodapé desta página).