Antropologia digital não é etnografia

Explicação cibernética e transdisciplinaridade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2021.2.39872

Palavras-chave:

Cibernética, Antropologia, Mídias digitais, Liminaridade, Cismogênese

Resumo

O artigo transpõe para a antropologia digital o argumento polêmico de Tim Ingold de que “antropologia não é etnografia”, reivindicando a vocação transdisciplinar da disciplina nos “quatro campos” a partir da perspectiva que Gregory Bateson chamou de explicação cibernética. Ilustra as possibilidades dessa abordagem explorando a produtividade de noções da teoria antropológica clássica para lançar luz sobre alguns dos efeitos anti-estruturais – não-pretendidos, porém sistêmicos – da plataformização.

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Biografia do Autor

Letícia Cesarino, Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Florianópolis, SC, Brasil.

Doutora em Antropologia pela Universidade da Califórnia (UC Berkeley), Berkeley, EUA; professora da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Florianópolis, SC, Brasil.

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Publicado

2021-08-24

Como Citar

Cesarino, L. (2021). Antropologia digital não é etnografia: Explicação cibernética e transdisciplinaridade. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 21(2), 304–315. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2021.2.39872