Dilemas do feminismo e a possibilidade de radicalização da democracia em meio às diferenças: o caso da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro

Autores

  • Letícia Ribeiro Instituto de Medicina Social/Uerj
  • Brena O'Dwyer Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Maria Luiza Heilborn

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2018.1.27560

Palavras-chave:

Igualdade e diferença. Marcha das Vadias. Transfeminismo. Feminismo negro. Interseccionalidade.

Resumo

O objetivo do artigo é analisar maneiras pelas quais a tensão entre igualdade e diferença é debatida no feminismo contemporâneo, bem como as implicações em termos de possibilidades e desafios para a efetivação da democracia. A metodologia consistiu em observação participante realizada em eventos e reuniões organizados por ativistas da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, entre maio e agosto de 2014. Nos anos seguintes, acompanhamos essa e outras iniciativas feministas do Rio de Janeiro, bem como os debates online entre diversas correntes ideológicas atuais, particularmente transfeministas, “feministas radicais” e feministas negras. As conclusões apontam para o uso do conceito de interseccionalidade como possibilidade de resolução das diferenças em uma perspectiva de combate às opressões. Uma tensão ainda não resolvida é a possibilidade de radicalização da democracia, expressa no ideal de “horizontalidade”, visto pelas militantes como não efetivado nas interações.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADRIAO, Karla Galvão; TONELI, Maria Juracy; MALUF, Sônia Weidner. O

movimento feminista brasileiro na virada do século 20: reflexões sobre sujeitos políticos na interface com as noções de democracia e autonomia. Revista de Estudos Feministas, v. 19, n. 3, p. 661-682, 2011 <10.1590/S0104-026X2011000300002>.

ALMEIDA, Guilherme Silva de. Repercussões sociais da assistência à saúde do transexual. In: Eloísio Alexsandro da Silva (org.). Transexualidade: princípios de atenção integral à saúde. São Paulo: Santos, 2012. p. 225-240.

ARÁN, Márcia; MURTA, Daniela. Do diagnóstico ao transtorno de identidade de gênero às redescrições da experiência da transexualidade: uma reflexão sobre gênero, tecnologia e saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 19, n. 1, p. 15-41, 2009 <10.1590/S0103-73312009000100003>.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960.

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BONETTI, Alinne de Lima. Não basta ser mulher, tem de ter coragem: uma etnografia sobre gênero, poder, ativismo feminino popular e o campo político feminista de Recife- PE. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

BORBA, Rodrigo. Sobre os obstáculos discursivos para a atenção integral e humanizada à saúde de pessoas transexuais. Sexualidad, Salud y Sociedad, n. 17, p. 66-97, 2014 <10.1590/1984-6487.sess.2014.17.06.a>.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 236 p.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 117-132, 2003 <10.1590/S0103-40142003000300008>.

CRENSHAW, K. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum 1989, n. 1, p. 139-167, 1989.

GOMES, Carla de Castro. Nossos corpos, nossos manifestos. Cult, n. 219, p. 40-43, 2016.

GOMES, Carla; SORJ, Bila. Corpo, geração e identidade: a Marcha das Vadias no Brasil. Revista Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, p. 433-447, 2014 <10.1590/S0102-69922014000200007>.

HEILBORN, Maria Luiza. Usos e desusos do conceito de gênero. Cult, n. 219, p. 36-39, 2016.

HEILBORN, Maria Luiza; CABRAL, Cristiane da Silva. Sexualidad, género y color entre jóvenes brasileños. In: Peter Wade; Fernando Urrea; Mara Viveros (orgs.). Raza, etnicidad y sexualidades: ciudadanía y multiculturalismo em América Latina. Bogotá: Lecturas CES, 2008. p. 167-197.

HEMMINGS, Clare. Contando estórias feministas. Revista de Estudos Feministas, v. 17, n. 1, p. 215-241, 2009 <10.1590/S0104-026X2009000100012>.

HENNING, Carlos Eduardo. Interseccionalidade e pensamento feminista: as contribuições históricas e os debates contemporâneos acerca do entrelaçamento de marcadores sociais da diferença. Mediações, v. 20, n. 2, p. 97-128, 2015 <10.5433/2176-6665.2015v20n2p97>.

JESUS, Jaqueline Gome de; ALVES, Hailey. Feminismo transgênero e movimentos de mulheres transexuais. Revista Cronos, v. 11, n. 2, p. 8-19, 2010.

O’DONNEL, Julia. A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

MAYORGA, Claudia; COURA, Alba; MIRALLES, Nerea; CUNHA, Viviane. As

críticas ao gênero e a pluralização do feminismo: colonialismo, racismo e política heterossexual. Estudos Feministas, v. 21, n. 2, p. 463-484, 2013 <10.1590/S0104-026X2013000200003>.

MOUFFE, Chantal. Feminismo, ciudadanía y política democrática radical. In: Martha Lamas (org.). Ciudadanía y feminismo. México: Instituto Federal Electoral, 2001. p. 1-13.

O’DWYER, Brena. A construção do gênero nas relações: um estudo com mulheres trans jovens e sobre o processo de feminização. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação de mestrado. Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Estudos Feministas, v. 19, n. 1, p. 11-20, 2011 <10.1590/S0104-026X2011000100002>.

RODRIGUES, Carla. Coreografias do feminino. Florianópolis: Editora Mulheres, 2009.

RIBEIRO, Letícia. Somos todas vadias? Igualdade, diferença e política feminista a partir da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

SAFFIOTI, Heleieth. Conceituando o gênero. In: Carla Rodrigues; Luciana Borges; Tania Regina Oliveira Ramos (orgs.). Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Funarte, 2016.

Downloads

Publicado

2018-04-13

Como Citar

Ribeiro, L., O’Dwyer, B., & Heilborn, M. L. (2018). Dilemas do feminismo e a possibilidade de radicalização da democracia em meio às diferenças: o caso da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 18(1), 83–99. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2018.1.27560

Edição

Seção

Gênero e sexualidade: entre a explosão do pluralismo e os embates da normalização