Arranjos contemporâneos de convivência
O campo de estudos sobre família e parentesco tem passado por grandes transformações desde os princípios da análise antropológica, aproveitando sobretudo os aportes e críticas advindas da pesquisa feminista, pós-colonialista, etc. Na esteira dessas transformações, a Antropologia tem se empenhado em demonstrar que as formas de parentesco são tão diversas como são também as sociedades e as culturas. Nas últimas décadas, em distintas partes do mundo, com diferentes configurações, estamos assistindo ao que se tem denominado de “novos arranjos de convivência” ou “novas famílias”, baseados em formas ora duradouras, ora momentâneas de relacionalidade. Tais experiências são cada vez mais diversas na contemporaneidade, de maneira que temos observado uma série de exemplos tais como as diferentes formas de coparentalidade e também de adoção, casos de pessoas ou famílias que decidem compartilhar casa e vida com pessoas da mesma idade ou de idades diferentes (crianças, jovens, adultos ou idosos) no lugar de parentes consanguíneos, ou pessoas (com o sem vínculos afetivos) que passam a conviver com um ou dois casais a fim de desenvolver um projeto parental, famílias que acolhem pessoas refugiadas, ou famílias que, quando os filhos saem de casa, decidem acolher outras crianças e bebês, ou ainda pessoas ou famílias que compartilham a vida e a casa com animais de estimação aos quais atribuem espaços, papéis e funções familiares, etc.
Tendo em vista esse contexto, o objetivo desse dossiê é reunir pesquisas etnográficas recentes e inéditas que suscitem discussões teórico-metodológicas em diferentes contextos, nacionais e internacionais, sobre essa diversidade de “arranjos contemporâneos de convivência” configurados a partir do acesso a novas liberdades e direitos, mas também em função de novas precariedades.