A vicissitude do texto na tecelagem dialógica
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2024.1.46244Palavras-chave:
Bakhtin e o Círculo, Análise Dialógica do Discurso, Método dialógico, Enunciado concreto, TextoResumo
Neste artigo, empreende-se uma discussão teórico-conceitual com dois objetivos inter-relacionados: (1) dispor o conceito de “texto” no quadro teórico-metodológico do dialogismo e (2) fomentar a precisão terminológica nos estudos dialógicos relativamente ao campo da Linguística, especialmente à análise dialógica do discurso (ADD). A discussão se fundamenta sobre três premissas: (i) o texto é um fenômeno semiótico, (ii) o texto configura artefato de intermediação, (iii) o texto implica um processo relacional. A partir daí, o artigo se desenvolve retoricamente por dois principais eixos argumentativos. No primeiro, recuperam-se a definição conceitual de “texto” e suas reformulações na obra de Bakhtin para cotejo com o quadro teórico emergente da obra do Círculo Bakhtin-Medviédev-Volóchinov. No segundo eixo, diferenciam-se os conceitos de “texto” e “enunciado concreto” e verifica-se a relevância da precisão terminológica para a pesquisa em ADD. Para tanto, toma-se como mote a reiteração do famoso dito “Diga ao povo que fico” em diferentes condições enunciativas. São considerados: o registro formal no termo de vereação da Câmara do Rio de Janeiro de 9 de janeiro de 1822; o samba-enredo de Cabana, de 1962, intitulado “Dia do fico”; a coluna jornalística de Maxwell Rodrigues intitulada “Diga ao povo que fico!”, publicada em 27 de setembro de 2023 no periódico digital A Tribuna. A discussão demonstra que amalgamar conceitualmente texto e enunciado concreto implicaria suprimir o ponto de partida da interpretação dialógica, que é o destaque dos enunciados da cadeia comunicativa discursiva e subsequente transposição para a condição de texto componente de um corpus de análise. Essa supressão traria como impacto a indistinção entre a posição ética do “ser expressivo falante” e a posição estética de pesquisador.
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