Silêncio e animalidade
Entre a experiência interior e a poética do horror
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2024.1.45630Palavras-chave:
Animalidade, Silêncio, Horror, Escrita, Pós-modernismoResumo
Neste artigo, busca-se uma análise sobre a relevância da animalidade nas poéticas que valorizam a alteridade, o silêncio e a escrita. Desvinculada da tradição romântica e metafísica, que insistem no biologismo, a animalidade possibilita uma reconsideração do regime das emoções, sobretudo negativas, em sua relação com o social. As considerações teóricas de Georges Bataille, de Jacques Derrida e de Giorgio Agamben são as principais abordagens da discussão da animalidade em seus aspectos relevantes e irredutíveis. Longe de ser um tema, uma metáfora ou um polo da alteridade negativa na definição do humano, a animalidade – sobretudo nas configurações discursivas que valorizam a metonímia –, enfatiza a importância da relação com o outro. Em algumas poéticas pós-modernas, como nas de Cormac McCarthy, a articulação da animalidade pode sublinhar a complexidade da formação das heterotopias e o protagonismo dos anti-heróis. A animalidade, ao abrir o ser humano ao segredo da linguagem e da dor, representa, para os poetas de diferentes âmbitos culturais, o enigma necessário para a capacidade da representação para além da investigação lírica e melancólica do “eu”. A produção ou a descoberta do conhecimento, de fato, fazem parte da experiência estética aberta aos diferentes sentidos, que busca o efeito do texto para além do caráter violento e demolidor do impacto perceptivo vanguardista. O papel dos silêncios dos lugares vazios e dos espaçamentos envolve uma postura especulativa do leitor que coloca, à distância e em jogo, as representações e sua relação com o imaginário e a realidade.
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