O suplício do corpo como instrumento do poder soberano
Análise do campo de exceção instaurado na senzala do Engenho Nossa Senhora da Natividade em “Água de Barrela” de Eliana Alves Cruz
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43147Palavras-chave:
literatura brasileira, senzala, suplício do corpo, escravização negra no Brasil, estado de exceçãoResumo
Neste ensaio, pretende-se analisar a obra Água de Barrela, da escritora e jornalista Eliana Alves Cruz, como uma fonte de representação das relações de poder durante o Brasil Império e que promoveram situações de tortura e encarceramento de escravizados africanos. Sendo a literatura ficção, não se pode tomá-la como verdade, mas, sim, como uma possibilidade de realidade a partir do conceito de representação do historiador Roger Chartier (1999). Dessa maneira, as cenas que retratam o período foram destacadas e analisadas a fim de verificar, através da literatura, como a narrativa se compõe e registra tais relações de poder. Para tanto, foram mobilizadas as noções de controle sobre o corpo e de biopoder de Michel Foucault (2021), bem como sua extensão para a necropolítica, de Achille Mbembe (2018). Ainda, a senzala do engenho Nossa Senhora da Natividade foi aqui considerada como um campo no qual se configura o estado de exceção, analisado à luz da teoria de Giorgio Agamben (2002). A proposta de que a senzala possa ser encarada como um campo deriva de estudos nas áreas de filosofia e história e, neste ensaio, pretende-se analisar em uma obra literária como podem ser verificáveis tais conceitos. Nesse local específico e criado para encarcerar os negros escravizados, o suplício do corpo ocorre como forma de disciplinar pelo medo, sendo decidido pelo poder soberano quem deve viver ou morrer de acordo com as necessidades de controle e de produção do soberano corporificado pelo senhor. A escravização negra no Brasil Imperial, portanto, é aqui encarada como um ancestral do campo biopolítico identificado nos movimentos totalitaristas do século XX, com desdobramentos e metamorfoses nos anos seguintes e representada pela literatura.
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Referências
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