Os delírios testemunhantes de si, as conversões performáticas a propósito de Los sorias, de Alberto Laiseca
Palavras-chave:
Literatura performática, Escrita de si, Literatura hispano-americanaResumo
A propósito da leitura do romance Los sorias, 1998, do escritor argentino Alberto Laiseca, proponho algumas hipóteses teóricas que relevam duas figurações recolhidas por imagens narrativas e por procedimentos ao longo do romance e que sugiro que se oferecem como elementos de medida das contradições básicas do mundo no qual o romance se ergue e, como é natural, do mundo criado nessa narrativa. Por um lado, a ideia imagem da delirância testemunhal, uma espécie de convergência de autobiografismo e de autorreflexão potencializadas em face à proporção das experiências traumáticas vividas no século XX, que denomino aqui delírios testemunhantes. Por outro, a imagem, encarnada em algumas personagens principais do romance, especialmente em Monitor, o ditador que sofre uma mutação ao longo do romance, uma mudança do mal para o bem, que coincide com a derrota na guerra, um rastro de sentimento de redenção, que conotaria as possibilidades de um renascer. À destruição, com furor e obstinação, provocada pela guerra, as ideologias, o humanismo e a própria noção de humanidade e de civilização sucedem novas recomposições, a conquista de formas e movimentos inéditos. Em outras palavras, vê-se a emergência de uma sensibilidade que pode deslocar o horizonte dos imaginários. Quando não é mais possível repensar as relações do homem com o mundo é necessário para o ser humano produzir em si mesmo um deslocamento radical, absolutamente dilacerante, que abra lugar para os efeitos ocasionados pelos sofrimentos de seus semelhantes, e a isso estou denominando aqui conversõesperformáticas.
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