“Vou ficar sozinho para sempre?”
expectativas de homens trans sobre relacionamentos afetivo-sexuais
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2024.1.42121Palavras-chave:
homens trans, transmasculinidade, sexualidade, estado conjugal, relacionamento conjugal.Resumo
Este estudo teve como objetivo conhecer as expectativas de homens trans acerca de seus relacionamentos afetivo-sexuais após a transição de gênero. Participaram 15 homens trans, com idades entre 20 e 41 anos, em processo de hormonização. Foram realizadas entrevistas individuais guiadas por um roteiro semiestruturado, audiogravadas, transcritas e submetidas à análise temática reflexiva. Os participantes reconheceram que, possivelmente, terão possibilidades mais restritas de se engajarem em relacionamentos afetivo-sexuais após a transição de gênero, em decorrência da materialidade corpórea divergente da cisnormatividade. Outra fonte de desconforto presumida é o repúdio social, que alimenta a abjeção e sedimenta o imaginário da exotização e fetichização dos corpos transmasculinos, fixando-os em relações esporádicas. Conclui-se que a persistente fixação na genitália como referente sígnico determinante da sexualidade modula e regula a busca por parceira íntima. Essa perspectiva reforça a heteronormatividade como estratégia de reafirmação do gênero.
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