Tipo de terapêutica e fatores de prognóstico na paralisia de Bell: estudo retrospectivo de cinco anos em um hospital português

Autores

  • Lília Ferraria Hospital Garcia de Orta
  • Inês Silva Centro Hospitalar Lisboa Central
  • Helena Rosa Hospital Garcia de Orta
  • Luis Antunes Hospital Garcia de Orta

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-6108.2016.1.21384

Palavras-chave:

paralisia de Bell, corticosteroides, antivirais, prognóstico.

Resumo

Objetivos: Comparar as abordagens terapêuticas na paralisia de Bell (corticoterapia versus corticoterapia mais terapia antiviral, assim como tratamento fisioterápico) e investigar potenciais fatores relacionados com sua evolução clínica e prognóstico.

Métodos: Estudo retrospectivo dos casos de paralisia de Bell atendidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada, Portugal, entre 2009 e 2013 (cinco anos). Avaliou-se a gravidade da disfunção inicial da paralisia pela escala de House-Brackmann. A avaliação das abordagens terapêuticas e dos fatores de prognóstico foi realizada com base na taxa e tempo de recuperação, sendo a recuperação considerada total quando o grau de House-Brackmann foi I após a terapêutica. Diabetes mellitus e gravidez e/ou puerpério foram avaliados também como fatores de risco para recorrência. Foram utilizados testes não paramétricos, com nível de significância p<0,05.

Resultados: Registraram-se 180 casos de paralisia de Bell no período do estudo, correspondendo a uma incidência média de 36 casos/ano. A principal terapêutica utilizada foi a combinação entre corticosteroide e antiviral, em 67,2% dos casos. A taxa de recuperação total com uso dessa combinação foi de 65,5% (57 de 87 doentes) versus 72,4% (21 de 29 pacientes) com corticoterapia isolada. Relativamente ao tempo de recuperação, 72,4% (63 de 87 doentes) recuperaram em três meses com o uso da combinação versus 75,8% (22 de 29 doentes) com corticoterapia isolada. Não se verificou, portanto, associação estatisticamente significativa entre o tipo de terapêutica tanto relativamente à taxa (p=0,689) como relativamente ao tempo de recuperação (p=0,977). A presença de otalgia e/ou disgeusia foi o único fator estatisticamente relacionado com a evolução clínica, associando-se a uma menor taxa (51,2% versus 74,4%) (p=0,004) e a um maior tempo de recuperação (60,5% versus 79,2% de taxa de recuperação aos três meses) (p=0,011). Verificou-se associação estatisticamente significativa do tratamento fisioterápico com maior taxa de recuperação (p=0,049). Em 24,1% (sete de 29) dos doentes com diabetes mellitus houve recorrência da paralisia, contrastando com apenas 6,0% (nove de 51) de recorrência em doentes sem diabetes mellitus (p=0,006).

Conclusões: Não houve diferença significativa na taxa de recuperação ou no tempo de recuperação da paralisia de Bell entre os casos que receberam terapêutica com corticosteroide e antiviral ou corticoterapia isolada. O tratamento fisioterápico associou-se à maior taxa de recuperação. Dos fatores de prognóstico estudados, apenas a queixa de otalgia e/ou disgeusia foi significativa, constituindo fator de mau prognóstico na paralisia de Bell. A presença de diabetes mellitus revelou-se fator de risco para recorrência da paralisia.

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Publicado

2016-03-09

Como Citar

Ferraria, L., Silva, I., Rosa, H., & Antunes, L. (2016). Tipo de terapêutica e fatores de prognóstico na paralisia de Bell: estudo retrospectivo de cinco anos em um hospital português. Scientia Medica, 26(1), ID21384. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2016.1.21384

Edição

Seção

Artigos Originais