A historicidade da música, entre regimes e cenas
A aplicação teórico-metodológica do pensamento de Jacques Rancière ao estudo histórico da música
DOI:
https://doi.org/10.15448/2178-3748.2021.1.37559Palavras-chave:
História, Música, Estética, Rancière, JacquesResumo
O presente artigo pretende introduzir o tema da historicidade da música, partindo de uma abordagem teórico-metodológica apoiada em aspectos da obra do filósofo francês Jacques Rancière. O debate trazido pelo autor acerca dos três regimes de identificação da arte – ético, representativo e estético – como forma de pensar e demonstrar a historicidade da literatura e do cinema, por exemplo, pode ser aplicado à análise da historicidade da música. Da forma pela qual podemos depreender da obra do autor francês, o aspecto principal a ser considerado para a historicidade de uma expressão musical não é o “tempo”, “época” ou “sociedade” a que uma expressão musical pertenceria – servindo como “contexto” geral de base para identificar sua especificidade histórica – mas sim, a racionalidade presente na forma pela qual se identificam os principais elementos de uma expressão musical. Nessa racionalidade, os princípios empregados na interpretação são fundamentais e, por sua vez, apontam para uma historicidade que compreende o tempo/espaço não como fator determinante de um evento histórico, mas como a convergência de múltiplas temporalidades em coexistência é elemento fundamental para não se compreender a historicidade da música a partir de blocos históricos estáticos. Ao longo do artigo, serão demonstrados breves exemplos de como os três regimes podem ser identificados a amplos debates a respeito da historicidade da música e, ao final, uma cena será construída para que se perceba em um evento inicialmente singular – as resenhas de E. T. A. Hoffmann e de Adolf Bernhard Marx acerca da Quinta e da Nona Sinfonia de Beethoven, respectivamente – a confrontação de dois regimes de historicidade da arte.
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