Um gesto menor, logo rebelde, na literatura brasileira

Escrita e subjetividade em Plínio Marcos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.2.36890

Palavras-chave:

Literatura brasileira, Plínio Marcos, História do Brasil, Deleuze, Teatro.

Resumo

Bastou a chegada de um corpo jovem na cela repleta de homens já velhos e gastos pelas dores do mundo para que algo ocorresse naquela madrugada. Assim ocorre na peça-teatral Barrela (1958), do escritor brasileiro Plínio Marcos (1935-1999), cuja narrativa densa e repleta de diálogos intensos e clivados por afetos múltiplos nos permite pensar toda uma concepção de humanidade, subjetividade e institucionalidade no espaço prisional brasileira das décadas de 1960 e 1970. O texto analisa a imagem do corpo jovem violado, descrevendo as intersecções de classe, gênero, geração e sexualidade que cindiram uma subjetividade coletiva alicerçada na dor e na reprodução da violência física e psicológica, mas sem incorrer em processos de individualização da violência, mas justamente buscando pensar as tecnologias de subjetivação que a literatura de Plínio Marcos permite analisar para pensar os afetos, percepções e tensões que sua escrita apresenta. A partir do diálogo com Michel Foucault, Gilles Deleuze e Maurice Blanchot busca-se pensar as relações entre a História e a Literatura, problematizando os modos de dar a ler a realidade através da escrita e da crítica social operada em meio a tempos sombrios. Deste modo, o artigo visa contribuir por meio de um exercício de experimentação para pensar sobre história do Brasil e história do corpo jovem a partir de uma fonte literária que por meio de seus perfectos e afectos como obra de arte sempre pode abrir outros modos de pensar e sentir. Tal processo nos permite pensar a literatura como um gesto de criação ético-político sobre o mundo e a vida.

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Biografia do Autor

José dos Santos Costa Júnior, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Doutorando em História no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor substituto no Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em João Pessoa, PB, Brasil.

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Publicado

2020-11-05

Como Citar

Júnior, J. dos S. C. (2020). Um gesto menor, logo rebelde, na literatura brasileira: Escrita e subjetividade em Plínio Marcos. Oficina Do Historiador, 13(2), e36890. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.2.36890

Edição

Seção

Artigos