Da soberba à humildade: o Auto da sibila Cassandra, de Gil Vicente

Autores

  • Luís André Nepomuceno Centro Universitário de Patos de Minas

DOI:

https://doi.org/10.15448/1983-4276.2016.1.22111

Palavras-chave:

teatro português, auto de moralidade, pecados capitais, Escolástica.

Resumo

Gil Vicente escreveu boa parte de seu teatro devocional a partir do “ciclo da natividade”, disseminado pelas moralidades e milagres típicos da dramaturgia medieval. Compondo uma face desse ciclo, o Auto da sibila Cassandra (ca. 1509-1513), a exemplo dos demais textos vicentinos desse período, termina com a cena do presépio como modelo máximo de humildade, antítese do “mundo às avessas” representado no primeiro quadro da peça. O presente artigo analisa os personagens centrais do auto, Cassandra e Salomão, como identidades de culturas distintas (a tradição clássica e o mundo do Antigo Testamento), ambas imbuídas da soberba que caracteriza o pecado de Lúcifer, porém levadas ao reconhecimento do erro, bem como à piedade e à adoração que movem o ciclo da natividade do teatro medieval. Uma breve análise histórica sobre o pecado do orgulho, fundamentada sobretudo em Agostinho e Tomás de Aquino, sustenta o entendimento da ação composta por Gil Vicente.

********************************************************************

From proudness to humbleness: Gil Vicente’s Auto da sibila Cassandra

Abstract: Gil Vicente wrote a good part of his devotional theater considering the “cycle of nativity”, disseminated by the miracle and morality plays typical of medieval drama. Composing a part of this cycle, the Auto da sibila Cassandra (ca. 1509-1513), together with other vicentine texts of this period, ends with the nativity scene as the greatest model of humility, antithesis of the topsy-turvy world represented in the first frame of the play. The present paper analyzes the central characters of the auto, Cassandra and Salomon, as identities of different cultures (the classical tradition and the Old Testament world), both imbued with the pride that characterizes Lucifer’s sin, however taken to the acknowledgment of their fault, as well as to the piety and adoration that move the cycle of nativity of medieval drama. A brief historical analysis about the sin of pride, founded especially on Augustine and Thomas Aquinas, sustains the understanding of this action composed by Gil Vicente.

Keywords: Portuguese theater; morality plays; capital sins; Scholastics.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luís André Nepomuceno, Centro Universitário de Patos de Minas

Professor de Literatura Brasileira e Portuguesa do curso de Letras do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).

Referências

AGOSTINHO, Santo. A verdadeira religião. O cuidado devido aos mortos. Trad. Ir. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002.

AGOSTINHO, Santo. O livre arbítrio. 3. ed. Trad. Ir. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995.

A IMITAÇÃO de Cristo . Trad. Luiz João Gaio. São Paulo: Loyola, 1992.

ALÇADA, João Nuno. Por ser cousa nova em Portugal. Oito ensaios vicentinos. Coimbra: Angelus Novus, 2003.

ALIGHIERI, Dante. La Divina Commedia. Milano: Ulrico Hoepli, 1955.

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005. v. IV.

AS OBRAS de Gil Vicente. Dir. José Camões. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002. 5 v.

BERNARDES, José Augusto Cardoso. Gil Vicente. Lisboa: Edições 70, 2008.

BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.

BRANDÃO, Junito. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1991. 2 v.

CASAGRANDE, Carla; VECCHIO, Silvana. Pecado. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru/São Paulo: Edusc/Imprensa do Estado de São Paulo, 2002.

COSTA, Dalila Pereira da. Gil Vicente e sua época. Lisboa: Guimarães Editores, 1989.

DRUMMOND, Albert. As constituintes da moral medieval católica: como os vícios humanos se tornaram os sete pecados capitais. Revista Mundo Antigo, v. 3, n. 5, p. 41-62, 2014.

FREIRE, Anselmo Braacamp. Vida e obras de Gil Vicente: trovador, mestre da balança. 2. ed. Lisboa: Revista “Ocidente”, 1944.

HART Jr., Thomas R. Gil Vicente’s Auto de la Sibila Casandra. In: Hispanic Review, v. 26, n. 1, p. 167-193, 1958.

KEATES, Laurence. O teatro de Gil Vicente na corte. Lisboa: Teorema, 1988.

MENDES, Margarida Vieira. Cassandra. Lisboa: Quimera, 1992. (Coleção “Vicente”).

MILTON, John. O Paraíso Perdido. Trad. António José Lima Leitão. Belo Horizonte: Villa Rica, 1994.

MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Trad. Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2001. v. II.

MORENO, Juan Antonio. La soberbia y la clausura en el pensamiento de S. Agustín. In: Thémata, n. 25, p. 285-292, 2000.

RÉVAH, I. S. L’Auto de la Sibylle Cassandre de Gil Vicente. In: Hispanic Review, v. 27, n. 2, p. 167-193, 1959.

RODRIGUES, Maria Idalina R. Deambulações e inquietações em torno do Auto da Sibila Cassandra. In: Via Spiritus, n. 6, p. 193-225, 1999.

SARAIVA, Antonio José. Gil Vicente e o fim do teatro medieval. 3. ed. Lisboa: Publicações Europa-América, 1970.

SARAIVA, Antonio José. História da cultura em Portugal. Lisboa: Gradiva, 2000. Vol. 2: Gil Vicente, reflexo da crise.

SPITZER, Leo. The Artistic Unity of Gil Vicente’s Auto da Sibila Casandra. In: Hispanic Review, v. 27, n. 1, p. 56-77, 1959.

TEYSSIER, Paul. Gil Vicente: o autor e a obra. Amadora: Ministério da Educação e das Universidades, 1982.

THE ANNOTATED Milton : Complete English Poems. Ed. Burton Raffel. New York: Bantam Books, 1999.

VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de. Notas vicentinas: preliminares duma edição crítica das obras de Gil Vicente. Lisboa: Revista “Ocidente”, 1949.

VICENTE, Gil. Auto da sibila Cassandra. Org. de Alexandre Soares Carneiro e Orna Messer Levin. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Downloads

Publicado

2016-08-29

Como Citar

Nepomuceno, L. A. (2016). Da soberba à humildade: o Auto da sibila Cassandra, de Gil Vicente. Navegações, 9(1), 59–66. https://doi.org/10.15448/1983-4276.2016.1.22111

Edição

Seção

Ensaios