“Comunicação não-violenta” pelas lentes da Linguística: embates no combate à intolerância

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2020.2.36001

Palavras-chave:

Linguagem para a paz, Cultura de paz, Discurso intolerante

Resumo

O presente artigo visa a analisar e discutir a proposta conhecida como “Comunicação não-violenta” (CNV) através das lentes da Linguística. Tal proposta tem sido utilizada em muitos países do mundo como ferramenta no combate ao discurso intolerante, mas é pouco conhecida, ou até desprezada, nos meios acadêmicos dos Estudos da Linguagem. Este artigo analisa os quatro componentes da CNV: “fato/observação”, “sentimento”, “necessidade” e “pedido”, de acordo com o postulado em Rosenberg (2006, 2019). As conclusões são que a contribuição teórica da Linguística, especialmente de conceitos como “discurso”, “simulacro”, “evidencialidade”, “princípio da cooperação conversacional”, entre outros, proporciona mais clareza e coerência para noções utilizadas sem rigor teórico pela CNV e podem, por isso, contribuir para o desenvolvimento da proposta. Em relação à Linguística, espera-se que o artigo contribua para que a disciplina esteja mais engajada na construção de um mundo menos violento, seja analisando propostas já existentes de linguagem para a paz, como o que se faz aqui, seja propondo novas abordagens.

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Biografia do Autor

Ana Raquel Motta, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP

Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Campinas, SP, Brasil), pesquisadora de pós-doutorado no Departamento de Linguística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil, com bolsa PNPD/Capes.

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Publicado

2020-02-28

Como Citar

Motta, A. R. (2020). “Comunicação não-violenta” pelas lentes da Linguística: embates no combate à intolerância. Letrônica, 13(2), e36001. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2020.2.36001