DOSSIÊ - Coletividades indígenas, afrodescendentes e camponesas em movimento: formas de governo e contextos extrativistas nas Américas, do nacional-desenvolvimentismo aos modelos neoliberais de governança:

2023-07-14

Os espaços das Américas ocupados por coletividades organizadas sobre formas dissidentes das orientadas pelo capitalismo globalizado foram objeto de inúmeras intervenções de Estados Nacionais, agências de fomento e cooperação técnica, ajuda humanitária e missões religiosas. Diferentes ideologias (de bases religiosas, científicas, políticas) conceberam os modos de vida destas coletividades como deficientes, hipossuficientes ou como modelos de futuro altamente idealizados. Tais ideologias, pautadas em concepções do que seja bem-estar e melhorias na vida de indígenas, camponeses afrodescendentes e/ou crioulos, orientaram em maior ou menor medida as perspectivas defendidas por regimes de governo variados voltadas à intervenção nos modos de viver e atuar simbólica e economicamente nos espaços territoriais por eles habitados.

Portanto, os séculos XX e as décadas iniciais do século XXI podem ser vistos no continente como momentos de continuidade das variadas formas de colonização internas aos Estados nacionais que o recortam. Neste dossiê, queremos destacar os anos do pós-Segunda Guerra Mundial para o presente, período de ascensão da hegemonia estadunidense e de hoje cada vez mais crescente presença dos interesses econômicos chineses. Nesse momento, ideias e práticas consteladas em torno do significantes flutuantes de colonização e desenvolvimento pretendem combinar uma suposta melhoria no plano material da vida tais coletividades, com a crescente expropriação de espaços territoriais e variadas formas de extrativismos (petróleo e gás, mineração e nas quais estamos incluindo aquelas conectadas ao chamado agronegócio). Ênfase especial será dada às transformações dos anos 1990 para o presente, tanto em termos das regulações internacionais e nacionais (as novas constituições de muitos países na América Latina, quanto da gestão neoliberal nas políticas governamentais), bem como do ciclo de crescimento econômico baseado na exportação de commodities sob modelo (neo)extrativista, acompanhada pela financeirização da terra, pela expansão de infraestrutura voltada à essa modalidade de exploração econômica, bem como à crescente tomada da atenção aos direitos das coletividades afetadas por corporações transnacionais.

Frente a tais movimentos políticos e econômicos, povos indígenas, comunidades afrodescendentes e camponeses têm produzido contra- narrativas e novas formas de luta, ocupando mais ou menos a esfera pública em luta pela autonomia como um valor fundamental. A crescente articulação internacional desses coletivos em movimento, sua presença na esfera pública global, sua imaginação de futuros são igualmente aspectos que se valorizará.

Organizadores

Antonio Carlos de Souza Lima (UFF e UFRJ); Marcelo Artur Rauber (UFRJ), Laura Navallo (CONICET/UNSA), Raúl Alejandro Delgado (Grupo de Estudios Afrocolombianos - Universidad Nacional/Colombia)

Submissão de artigos: até 29 de fevereiro de 2024

Previsão de publicação: até 31 de dezembro de 2024