Contribuições bakhtinianas para um feminismo dialógico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2021.3.42205

Palavras-chave:

Alteridade, Ato ético, Diálogo, Heterodiscurso, Feminismo dialógico

Resumo

Há mais de 170 anos, feministas questionam o conceito de mulheridade, observando como a definição do que é ser mulher perpassa múltiplas e complexas questões. A diversidade da categoria “mulher” impulsionou a construção de vários conceitos, teorias e metodologias no arcabouço feminista, tais como a interseccionalidade, o lugar de fala, a teoria do ponto de vista, os saberes localizados, o feminismo negro, o feminismo decolonial, o feminismo dialógico, entre outros. Lídia Puigvert e Márcia Tiburi têm teorizado sobre o feminismo dialógico, demonstrando que é possível pensar em um feminismo que, por meio de um posicionamento ético, como um lugar de fala e de escuta, de diálogo e de solidariedade entre diferentes vozes, perceba as desigualdades sociais e lute contra as diversas formas de opressão. Neste artigo, visamos desenvolver uma reflexão a partir do cotejamento de ideias propostas por Lídia Puigvert e Márcia Tiburi sobre o feminismo dialógico com alguns conceitos propostos por Mikhail Bakhtin, verificando de que modo o pensamento bakhtiniano pode colaborar para um feminismo dialógico. Com esta reflexão, é possível observar que muitos conceitos elaborados por Bakhtin, como diálogo, relações dialógicas, heterodiscurso, posições axiológicas, ato ético, alteridade e excedente de visão, podem contribuir para um feminismo dialógico, tanto como teoria quanto como práxis, iluminando facetas de uma abordagem de alto poder heurístico para promover espaços democráticos plurais.

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Biografia do Autor

Maria da Glória Di Fanti, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGL/PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Débora Luciene Porto Boenavides, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Doutoranda em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGL/PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil, com bolsa do CNPq.

Luciane Alves Branco Martins, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Doutoranda em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGL/PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil, com bolsa da CAPES/PROEX.

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Publicado

2021-12-31

Como Citar

Fanti, M. da G. D. ., Boenavides, D. L. P. ., & Martins, L. A. B. . (2021). Contribuições bakhtinianas para um feminismo dialógico. Letras De Hoje, 56(3), 570–583. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2021.3.42205

Edição

Seção

Dossiê: Estudos Bakhtinianos Contemporâneos