Catimbó-Jurema
Uma análise crítica do discurso multimodal sobre o imaginário social religioso no filme O Auto da Compadecida
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.43602Palavras-chave:
Catimbó-Jurema, O Auto da Compadecida, multimodalidade, discurso, imaginário socialResumo
Na sociedade contemporânea, são inúmeras as demandas criadas cotidianamente decorrentes das relações interseccionais que compõem as experiências identitárias de indivíduos e de grupos sociais diversos, com base em marcadores sociais da diferença como gênero, sexualidade, raça, classe, etnia, afiliação religiosa e deficiência, que frequentemente se tornam catalizadoras de preconceitos e de discriminação. Diante desse contexto, investigamos, neste artigo, a construção do imaginário sociodiscursivo sobre o Catimbó-Jurema por meio da análise de quadros de cenas selecionadas do filme O Auto da Compadecida (2000), com suporte teórico-metodológico e crítico da gramática sistêmico-funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), mais especificamente do sistema de transitividade da metafunção experiencial, da gramática do design visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2021), com foco nas metafunções representacional e composicional, e da análise crítica do discurso (FAIRCLOUGH, 1995, 2015; RESENDE; RAMALHO, 2006), com base no modelo tridimensional de Fairclough, em relação transdisciplinar com estudos em antropologia, ciências da religião, sociologia e filosofia. Resultados gerais das análises críticas e sistêmico-funcionais do discurso multimodal sobre o Catimbó-Jurema no filme O Auto da Compadecida apontam que a construção desse imaginário social ocorre por meio da mobilização de recursos verbais e imagéticos que buscam associar religiões afro-indígenas ao demoníaco na intersecção de discursos e práticas sociais que se (re)articulam de formas complexas, históricas e situadas. Por fim, compreendemos que as análises empreendidas nos possibilitaram uma visão crítica não apenas quanto à utilização dos recursos multimodais neste filme, mas também no que diz respeito às inter-relações entre os processos de construção de sentido por meio da linguagem e as inteligibilidades que também são parte do imaginário sociocultural.
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