Corpos subjugados: estupro como problemática histórica
DOI:
https://doi.org/10.15448/2178-3748.2017.1.26768Palavras-chave:
Gênero, Masculinidades, Violência sexual.Resumo
O estupro durante muito tempo foi considerado como ato de poucos e degenerados maníacos sexuais. Mas, em meados do século XX, o entendimento sobre esse crime foi sendo modificado, deixando a margem social da experiência cotidiana para ser compreendido como uma relação de força e poder de homens sobre mulheres. Relação esta legitimada socialmente como parte integrante da formação das subjetividades masculinas. Procuramos, a partir da análise de processos criminais de estupro instaurados na comarca de Curitiba, Estado do Paraná, ao longo da década de 1950, analisar os discursos produzidos sobre a violência sexual e sua vinculação aos padrões de masculinidade e feminilidade naquele contexto histórico. Objetivamos problematizar a construção das masculinidades de homens que estavam no limiar entre a necessidade de demonstração de virilidade e dominação, representada na posse sexual do corpo feminino, e a anormalidade da violência sexual. Em que medida esses homens dialogavam com a masculinidade hegemônica deste contexto específico? Como jogavam discursivamente para produzir uma zona de sombra que lhes permitisse não serem julgados anormais pelos seus pares? Nesse contexto em que as mulheres estavam cada vez mais envolvidas com o mundo público, o estupro, mais do que relação sexual forçada, passava a funcionar como um dispositivo de modelação de condutas sexuais e sociais que operava na construção do medo da presença em espaços de vulnerabilidade feminina.
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