Produção literária e contexto histórico no século XIX: O Mulato, de Aluísio Azevedo
DOI:
https://doi.org/10.15448/2178-3748.2018.1.24502Palavras-chave:
Produção Literária, História, EscravidãoResumo
Tomando o romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo, como pretexto, o artigo pretende analisar as representações político-literárias que ele comporta, sobre a presença negra no Brasil, no final do oitocentos. A obra transita por entre as estruturas sociais que projetavam múltiplos discursos indicando as relações de poder inferiorizantes do negro, como clérigos, comerciantes e Estado. As representações de manutenção do modo de produção escravo em face do desenvolvimento econômico e construção identitária nacional, convergem na lógica de que a emancipação negra não apenas é uma ameaça ao status quo da elite como perpassa o atraso brasileiro apreendido pelo viés da degeneração racial advindo da mestiçagem. Publicado em 1881, período de grandes mudanças estruturais (processo abolicionista, campanha e proclamação republicana, crescimento da imigração europeia), o livro coincide com a recepção no Brasil de várias perspectivas analíticas, que estimularam e condicionaram o pensar das elites nacionais sobre a participação negra, vista principalmente como entrave a consolidação de uma nação civilizada.
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