Revista Navegações V.13 N.1 - Dossiê: Representações do oriente nas literaturas em língua portuguesa
Revista Navegações V.13 N.1
Dossiê: Representações do oriente nas literaturas em língua portuguesa
Chamada: “Que gente será esta, em si diziam, / Que costumes, que Lei, que Rei teriam?”, indaga o poema épico camoniano na viagem que precede o encontro com a alteridade. Marcada pela história colonial, a literatura portuguesa tradicionalmente ocupou-se de representar o outro por meio de cartas, crônicas, epopeias, contos, romances, autobiografias, memórias e demais gêneros. De Côrte-Real a Pessoa, de Mendes Pinto a Eça, de Gil Vicente a Gonçalo Tavares, de Caminha a Inês Pedrosa, de Gândavo a Isabela Figueiredo, muitos foram os escritores que, de diferentes formas, buscaram representar os espaços e a cultura daqueles que estiveram às margens do império. Em seu clássico estudo Orientalismo, o teórico palestino Edward Said chama atenção para a construção da imagem do oriente, e consequentemente dos orientais, a partir de um conjunto elaborado de representações institucionalizadas no decorrer da modernidade europeia. Para Said, essas representações têm um viés político, pois criam um consenso a respeito desse outro no imaginário ocidental. Apesar das relações desiguais de poder que sustentaram a empreitada colonial, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos chama atenção para o fato de que toda descoberta é, necessariamente, um duplo reconhecimento. Assim, o colonialismo também propiciou a descoberta do ocidente pelos colonizados, bem como a reformulação de sentidos para si a partir deste contato. Dessa forma, a escrita dos sujeitos oriundos dos espaços colonizados configura paisagens identitárias a partir de uma perspectiva outra, a do oriente. Autores como Rui Knopfli, Virgílio de Lemos, Arménio Vieira, Mia Couto, Agualusa, Luís Cardoso, Paulina Chiziane, entre tantos outros, permitiram novos olhares a respeito de seus “orientes”. Em seu ensaio “Tempo de ouvir o 'outro' enquanto o “outro” existe...”, o escritor e antropólogo angolano Ruy Duarte de Carvalho chama atenção para a necessidade de um novo paradigma de compreensão global: amparado nas culturas animistas, reivindica uma postura de reconhecimento do outro enquanto sujeito produtor de significados, estes sempre plurais e provisórios. Desse modo, a multiplicidade de sentidos possibilitaria a formação de um todo global baseado no respeito à diferença, na contramão dos projetos coloniais/globalizados/universalizantes. Sendo assim, buscando a ampliação de sentidos a respeito do outro, a Revista Navegações v.13 n.1 (2020/1) receberá artigos que analisem as representações do oriente nas literaturas em língua portuguesa. Os artigos poderão ser enviados até 28 de fevereiro de 2020 e a publicação ocorre dentro do primeiro semestre de 2020.
Prof. Dr. Gustavo Henrique Rückert
(Faculdade Interdisciplinar em Humanidades – UFVJM)
Prof. Dr. Maged ElGebaly
(Departamento de Língua Portuguesa – Aswan University)