O “Escola sem Partido” e a “versão autorizada” da experiência histórica da escravidão nas redes sociais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/2179-8435.2021.1.41230

Palavras-chave:

Escola sem Partido, Ensino de história, Redes sociais, Escravidão

Resumo

Este artigo tem como objetivo central analisar os modos pelos quais apoiadores do “Movimento Escola sem Partido” (MESP) abordam a experiência histórica da escravidão em páginas virtuais da rede social Facebook. Tencionamos, com isso, refletir sobre o que apoiadores diretos do movimento entendem como uma “versão autorizada” dessa experiência histórica para ser ensinada nas aulas de história. Por “experiência histórica da escravidão” compreendemos não apenas o escravismo passado, mas também sua herança reiterada nos séculos seguintes à Abolição. Desse modo, este artigo analisará também as formas pelas quais o MESP, em suas franjas virtuais, compreende a relação passado-presente no ensino de história. A partir de exemplos pesquisados, focaremos no modo como as páginas lidaram com a figura da vereadora Marielle Franco e da princesa Isabel para disputas sentidos específicos sobre a história a ser ensinada. Com isso pretendemos contribuir para reflexões sobre as ameaças do MESP a qualquer ensino de história que se pretenda minimamente democrático e emancipatório.

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Biografia do Autor

João Carlos Escosteguy Filho, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Pinheiral, RJ, Brasil.

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, RJ, Brasil; professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), em Pinheiral, RJ, Brasil.

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Publicado

2021-12-17

Como Citar

Escosteguy Filho, J. C. (2021). O “Escola sem Partido” e a “versão autorizada” da experiência histórica da escravidão nas redes sociais. Educação Por Escrito, 12(1), e41230. https://doi.org/10.15448/2179-8435.2021.1.41230

Edição

Seção

Dossiê: Ensino de História e usos do passado