Linguagem neutra

Uma análise baseada na teoria dialógica do discurso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.4.39869

Palavras-chave:

Linguagem neutra, Gênero, Círculo de Bakhtin, Signo ideológico, Valoração

Resumo

Recentemente a discussão sobre o uso de uma linguagem neutra, que não promova a exclusão de pessoas que não se identificam com a divisão binária de gênero em masculino e feminino, tem ganhado espaço na sociedade. Tal temática vem sendo foco de discussões realizadas tanto no âmbito acadêmico, a exemplo de artigos científicos e palestras acerca dessa forma de expressão linguística, quanto da população em geral e, inclusive, do Poder Legislativo, que propôs em 2020 quatro projetos a esse respeito. Tendo em vista a relevância do tema na atualidade, o objetivo deste estudo consiste em refletir sobre o uso dessa forma de linguagem a partir da perspectiva do Círculo de Bakhtin, tomando como base o conceito de signo ideológico proposto por esses pensadores. Para tanto, também analisamos alguns excertos do Projeto de Lei n.º 5.385, que trata da linguagem neutra, buscando dialogar com as motivações e implicações dessa forma de expressão. A partir disso, entendemos que tal forma de linguagem se pauta em uma reacentuação dos signos ideológicos, advinda de uma modificação na realidade, de modo que os signos se tornam palco da tensão entre grupos que percebem a identidade como binária e grupos que não a percebem dessa maneira.

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Biografia do Autor

Verônica Franciele Seidel, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Doutoranda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil; mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, RS, Brasil; bacharel em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria, RS, Brasil.

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Publicado

2021-12-31

Como Citar

Seidel, V. F. (2021). Linguagem neutra: Uma análise baseada na teoria dialógica do discurso. Letrônica, 14(4), e39869. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.4.39869

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