Ultrapassando os limites entre o natural e o cultural

Uma revisão neuropsicolinguística sobre a aquisição da leitura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.2.38747

Palavras-chave:

Alfabetização, Reconhecimento dos sons da fala, Cognição

Resumo

O presente artigo tem por objetivo revisar o panorama atual e abrangente sobre a base neurocognitiva da aquisição da leitura. Mesmo sendo a leitura uma atividade estabelecida a partir de pressões socioculturais, resultado de processos custosos de aprendizagem explícita e instrução formal, a literatura indica que seu aprendizado se dá sob cognições naturais, de forma análoga a que acontece no processamento auditivo dos sinais da fala. Aqui, discutimos tais perspectivas, buscando sinalizar como essas descobertas da neurociência e da psicolinguística podem e devem impactar o ensino de leitura tornando essa aprendizagem cada vez mais efetiva, de modo a contribuir para a construção da autonomia e da cidadania do indivíduo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Isadora Rodrigues de Andrade, Universidade Federal do Rio De Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Doutoranda em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Rio de Janeiro, RJ, Brasil; mestre em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); integrante do Laboratório ACESIN – Laboratório de Acesso Sintático, associado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); pesquisadora visitante do Laboratório LAPROS – Aquisição da Linguagem, Processamento e Sintaxe, associado ao Departamento de Linguística da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em São Paulo, SP, Brasil; e bolsista CAPES.

Aniela Improta França, Universidade Federal do Rio De Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Rio de Janeiro, RJ, Brasil; professora associada do Departamento de Linguística da UFRJ, membro do Espaço Alexandria (EA-UFRJ) e membro efetivo do Programa Avançado de Neurociência (PAN-UFRJ); coordenadora do Laboratório de Acesso Sintático – ACESIN; pesquisadora do CNPq; cientista do Nosso Estado da FAPERJ; membro da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE); coordenadora do projeto de internacionalização da Pós-Graduação em Linguística da UFRJ junto ao Projeto CAPES-PrInt (quadriênio 2018-2022); e diretora adjunta da Pós-Graduação da Faculdade de Letras (2020-2022) da mesma instituição..

Referências

ANDRADE, Isadora R.; FRANÇA, Aniela I. A influência da alfabetização nas cognições de reconhecimento de faces e dos sinais da fala: um estudo psicolinguístico. No prelo.

ANDRADE, Isadora R.; FRANÇA, Aniela I.; SAMPAIO, Thiago O. M. Dinâmicas da interação nature-nurture: do imprinting à reciclagem neuronal. ReVel, v.16, n. 31, 2018.

ANDRADE, Isadora R.; GOFFREDO, Clara B. S. de. Os poderosos alcances da literacia: do pensamento crítico à cidadania. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 2, p. 1-5, 27 jun. 2020. 10.25189/rabralin.v19i2.1453

BERWICK, Robert; CHOMSKY, Noam. ¿Por qué solo nosotros? Barcelona: Kairós, 2016.

BOLHUIS, Johan J. et al. How could language have evolved? PLoS Biology, v. 12, n. 8, p. e1001934, 2014. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.1001934

BRENNAN, Christine et al. Reading acquisition reorganizes the phonological awareness network only in alphabetic writing systems. Human brain mapping, v. 34, n. 12, p. 3354-3368, 2013. https://doi.org/10.1002/hbm.22147

CASTLES, Anne et al. How does orthographic knowledge influence performance on phonological awareness tasks? The Quarterly Journal of Experimental Psychology Section A, v. 56, n. 3, p. 445-467, 2003. 10.1080/02724980244000486

CASTRO-CALDAS, Alexandre et al. The illiterate brain: Learning to read and write during childhood influences the functional organization of the adult brain. Brain: A Journal of Neurology, v. 121, n. 6, p. 1053-1063, 1998. https://doi.org/10.1093/brain/121.6.1053

CHOMSKY, Noam. A Minimalist program for linguistic theory. In: HALE, Ken; KEYSER, Samuel (Orgs.) The View from Building 20: Essays in Honor of Sylvain Bromberger. Cambridge: MIT Press, 1993. p. 1-52.

CHOMSKY, Noam. Logical structures in language. American Documentation (pre-1986), v. 8, n. 4, p. 284-291, 1957. https://doi.org/10.1002/asi.5090080406

CHOMSKY, Noam. The Language Capacity: Architecture and Evolution. Psychonomic Bulletin and Review, v. 24, p. 200-203, 2017. 10.3758/s13423-016-1078-6

COHEN, Laurent et al. The pathology of letter-by-letter reading. Neuropsychologia, v. 42, n. 13, p. 1768-1780, 2004. https://doi.org/10.1016/j.neuropsychologia.2004.04.018

COHEN, Laurent et al. The visual word form area: spatial and temporal characterization of an initial stage of reading in normal subjects and posterior split-brain patients. Brain, v. 123, n. 2, p. 291-307, 2000. https://doi.org/10.1093/brain/123.2.291

CURTISS, Susan. Genie: A psycholinguistic study of a modern-day "wild child". New York: Academic Press, 1977.

DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Tradução: Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.

DEHAENE, Stanislas. Reading in the brain: The new science of how we read. Penguin, 2009.

DEHAENE, Stanislas et al. How learning to read changes the cortical networks for vision and language. Science, v. 330, n. 6009, p. 1359-1364, 2010. 10.1126/science.1194140

DEHAENE, Stanislas et al. Illiterate to literate: behavioural and cerebral changes induced by reading acquisition. Nature Reviews Neuroscience, v. 16, n. 4, p. 234-244, 2015. 10.1038/nrn3924

DEHAENE-LAMBERTZ, Ghislaine; DEHAENE, Stanislas. Speed and cerebral correlates of syllable discrimination in infants. Nature, v. 370, p. 292-295, 1994. 10.1038/370292a0

DEHAENE-LAMBERTZ, Ghislaine; MONZALVO, Karla; DEHAENE, Stanislas. The emergence of the visual word form: Longitudinal evolution of category-specific ventral visual areas during reading acquisition. PLoS Biology, v. 16, n. 3, p. e2004103, 2018. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.2004103

EHRI, Linnea C.; WILCE, Lee S. The mnemonic value of orthography among beginning readers. Journal of Educational Psychology, v. 71, n. 1, p. 26, 1979. https://doi.org/10.1037/0022-0663.71.1.26

FENG, Xiaoxia et al. Shared anomalies in cortical reading networks in Chinese and French dyslexic children. bioRxiv, p. 834945, 2019. 10.1101/834945

FISCHER, Steven R. História da Escrita. Tradução: Mirna Pinsky. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

FODOR, Jerry A. The modularity of mind. Cambridge: MIT Press, 1983.

FRANÇA, Aniela I. et al. Cérebro e leitura: Educação, neurociência e o novo aluno na era do conhecimento. In: Marcus Maia (Org.). Psicolinguística e Educação. 1ª ed. São Paulo: Mercado das Letras, 2018. p. 221-250.

FRANÇA, Aniela I.; LAGE, Aleria C. Uma visão biolinguística da arbitrariedade saussuriana. Letras de Hoje, v. 48, n. 3, p. 299-308, 2013.

GALGUERA, Miriam P. Resenha sobre: UNESCO. Education for all 2015: Achievements and Challenges. Paris, France: UNESCO. Journal of Supranational Policies of Education, n. 3, p. 328-330, 2015.

GALLEGO, Ángel J.; CHOMSKY, Noam. A Faculdade da Linguagem: Um objeto biológico, uma janela para a mente e uma ponte entre disciplinas. Tradução: Aniela Improta França e Marcus Maia. Revista LinguíStica, v. 16, Número Especial Comemorativo, p. 52-84, 2020. https://doi.org/10.31513/linguistica.2020.v16nEsp.a39404

GOPNIK, Alison. The post-Piaget era. Psychological Science, v. 7, n. 4, p. 221-225, 1996. https://doi.org/10.1111/j.1467-9280.1996.tb00363.x

GRAINGER, Jonathan et al. Masked repetition and phonological priming within and across modalities. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, v. 29, n. 6, p. 1256, 2003. https://doi.org/10.1037/0278-7393.29.6.1256

HENSCH, Takao K. Critical period regulation. Annual Review of Neuroscience, v. 27, p. 549-579, 2004. https://doi.org/10.1146/annurev.neuro.27.070203.144327

KIM, Judy S. et al. Development of the visual word form area requires visual experience: evidence from blind braille readers. Journal of Neuroscience, v. 37, n. 47, p. 11495-11504, 2017. 10.1523/JNEUROSCI.0997-17.2017

KOLINSKY, Régine. Spoken word recognition: A stage-processing approach to language differences. European Journal of Cognitive Psychology, v. 10, n. 1, p. 1-40, 1998. https://doi.org/10.1080/713752266

KOLINSKY, Régine; PATTAMADILOK, Chotiga; MORAIS, José. The impact of orthographic knowledge on speech processing. Ilha do Desterro, n. 63, p. 161-186, 2012. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2012n63p161

LENNEBERG, Eric H. Biological foundations of language. Oxford: Wiley, 1967.

MONZALVO, Karla; DEHAENE-LAMBERTZ, Ghislaine. How reading acquisition changes children’s spoken language network. Brain and language, v. 127, n. 3, p. 356-365, 2013. https://doi.org/10.1016/j.bandl.2013.10.009

MORAIS, José. Alfabetizar para a democracia. Porto Alegre: Penso, 2014.

MYERS, David G. Psychology, Tenth Edition. New York, NY: Worth Publishers, 2013.

PATTAMADILOK, Chotiga et al. How does learning to read affect speech perception? Journal of Neuroscience, v. 30, n. 25, p. 8435-8444, 2010. https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.5791-09.2010

PATTAMADILOK, Chotiga et al. Orthographic congruency effects in the suprasegmental domain: Evidence from Thai. Quarterly Journal of Experimental Psychology, v. 61, n. 10, p. 1515-1537, 2008. https://doi.org/10.1080/17470210701587305

PERRE, Laetitia et al. Orthographic effects in spoken language: On-line activation or pronological restructuring? Brain Research, v. 1275, p. 73-80, 2009. https://doi.org/10.1016/j.brainres.2009.10.052

PIATTELLI-PALMARINI, Massimo. Ever since language and learning: afterthoughts on the Piaget-Chomsky debate. Cognition, v. 50, n. 1-3, p. 315-346, 1994. https://doi.org/10.1016/0010-0277(94)90034-5

REH, Rebecca et al. Critical period regulation across multiple timescales. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 117, n. 38, p. 23242-23251, 2020. https://doi.org/10.1073/pnas.1820836117

SCLIAR-CABRAL, Leonor. A desmistificação do método global. Letras de Hoje, v. 48, n. 1, p. 6-11, 2013.

SEIDENBERG, Mark S.; TANENHAUS, Michael K. Orthographic effects on rhyme monitoring. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, v. 5, n. 6, p. 546, 1979. https://doi.org/10.1080/09541440902734263

SMITH, Frank. Psycholinguistics and reading. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1973.

SMITH, Frank. Understanding reading: A psycholinguistic analysis of reading and learning to read. 6º ed. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2004.

SOARES, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.

STRIEM-AMIT, Ella; COHEN, Laurent; DEHAENE, Stanislas; AMEDI, Amir. Reading with sounds: sensory substitution selectively activates the visual word form area in the blind. Neuron, v. 76, n. 3, p. 640-652, 2012. https://doi.org/10.1016/j.neuron.2012.08.026

TAFT, Marcus. Orthographically influenced abstract phonological representation: Evidence from non-rhotic speakers. Journal of psycholinguistic research, v. 35, n. 1, p. 67-78, 2006. 10.1007/s10936-005-9004-5

VENTURA, Paulo et al. The locus of the orthographic consistency effect in auditory word recognition. Language and Cognitive processes, v. 19, n. 1, p. 57-95, 2004. https://doi.org/10.1080/01690960344000134

WOLF, Maryanne. Proust and the squid: The story and science of the reading brain. New York: Harper Perennial, 2008.

ZIEGLER, Johannes C.; FERRAND, Ludovic. Orthography shapes the perception of speech: The consistency effect in auditory word recognition. Psychonomic Bulletin & Review, v. 5, n. 4, p. 683-689, 1998. 10.3758/BF03208845

Downloads

Publicado

2021-06-09

Como Citar

Andrade, I. R. de, & França, A. I. . (2021). Ultrapassando os limites entre o natural e o cultural: Uma revisão neuropsicolinguística sobre a aquisição da leitura. Letrônica, 14(2), e38747. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.2.38747