A Considerações sobre a representação da pessoa negra na publicidade brasileira nos séculos XX e XXI

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44728

Palavras-chave:

padrão de beleza, pessoa negra, publicidade, racismo.

Resumo

Nas publicidades das décadas de 1900 a 1930, os clareadores de pele representavam uma proposta para as mulheres negras de pele retinta “melhorarem” de vida, além de indicarem uma equidade racial, individual e familiar. Dessa forma, a pele negra era tratada pela imprensa como uma pele feia, o que traria como consequências menores oportunidades no mercado de trabalho, sendo que havia uma preferência por representações de pessoas negras de tez mais clara. Na publicidade contemporânea podem ser observadas características como a ousadia e a inserção de produtos destinados a jovens negros, contudo, ainda são encontrados determinados resgastes de uma construção estereotipada, em que as habilidades intelectuais são menos valorizadas em detrimento das habilidades corporais. Deste modo, este artigo objetiva, através de uma discussão em torno da questão racial, refletir sobre a representação da pessoa negra na publicidade contemporânea, considerando os aspectos relacionados à prática do racismo, o que acabou por naturalizar determinadas representações que inferiorizam os negros. As discussões foram tecidas a partir de questões do racismo atrelado à escravidão e sobre aspectos relacionados ao padrão de beleza na publicidade em diferentes épocas. Foi possível verificar que para o homem negro é recorrente a sua imagem ser associada a habilidades da dança, configurando-se em um estereótipo que destitui a intelectualidade para a pessoa negra. Para a mulher negra, sua representação está relacionada à corporalidade, sendo suas características associadas à animalidade, à selvageria, ao grotesco. Observou-se ainda uma representação social baseada em estereótipos racistas, em que às pessoas brancas são associados adjetivos como a beleza e a popularidade, enquanto que para as pessoas negras são associados aspectos que se referem à feiura e à agressividade, por exemplo.

Palavras-chaves: Padrão de Beleza. Pessoa Negra. Publicidade. Racismo.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Suéllen Stéfani Felício Lourenço, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil.

Mestre em Letras pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, MG, Brasil; bacharel em Secretariado Executivo Trilíngue pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, MG, Brasil.

Mariana Ramalho Procópio Xavier, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil.

Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte,[ MG, Brasil; mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo
Horizonte, MG, Brasil. Professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, MG, Brasil.

Ana Carolina Gonçalves Reis, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil.

Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, MG, Brasil; mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo
Horizonte, MG, Brasil. Professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, MG, Brasil.

Referências

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019. (Coleção Feminismos Plurais).

BANAJI, Shakuntala. Racismo e orientalismo: o papel da mídia. In: CORRÊA, Laura Guimarães (org.). Vozes negras em comunicação: Mídia, racismos, resistências. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. p. 1-35.

BARBOSA, Lívia. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 2003.

BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Pólen, 2019. (Coleção Feminismos Plurais).

BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Brasília, DF: Presidência da República, 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 14 maio 2023.

CHARAUDEAU, Patrick. Os estereótipos, muito bem. Os imaginários, ainda melhor. Traduzido por André Luiz Silva e Rafael Magalhães Angrisano. Entrepalavras, Fortaleza, v. 7, p. 571-591, jan./jun. 2017. Disponível em: http://www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/viewFile/857/433. Acesso em: 11 maio 2023.

CORRÊA, Laura Guimarães; BERNARDES, Mayra. “Quem tem um não, tem nenhum”: solidão e sub-representação de pessoas negras na mídia brasileira. In: CORRÊA, Laura Guimarães (org.). Vozes negras em comunicação: Mídia, racismos, resistências. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. p. 1-46.

CORRÊA, Laura Guimarães. Empoderar pra quê? Corpos e cabelos das mulheres negras na publicidade. In: LEITE, Francisco; BATISTA, Leandro Leonardo (org.). Publicidade antirracista: Reflexões, caminhos e desafios. São Paulo: ECA-USP, 2019. p. 193- 210.

DESCUBRA qual é o seu tipo de cabelo crespo. Portal Geledés, [s. l.], 10 ago. 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/descubra-qual-e-o-seu-tipo-de-cabelo-crespo. Acesso em: 16 maio 2023.

FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado Brasileiro. 2006. 145 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2006.

FREYRE, Gilberto. Casa grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.

GOIZ, Juliana de Almeida. Das teorias racialistas ao genocídio da juventude negra no Brasil contemporâneo: algumas reflexões sobre um país nada cordial. Revista Aedos, Porto Alegre, v. 8, n. 19, p. 108-127, dez. 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/68758/40557. Acesso em: 15 maio 2023.

GOLD dust washing powder sign. Antique Advertising.com., [s. l.], 31 out. 2014. Disponível em: https://antiqueadvertising.com/free-antique-price-guide/antique-signs/gold-dust-washing-powder-sign. Acesso em: 22 maio 2023.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019a.

hooks, bell. Olhares negros: Raça e Representação. São Paulo: Editora Elefante, 2019b.

LEITE, Francisco. Para pensar uma publicidade antirracista: entre a produção e os consumos. In: LEITE, Francisco; BATISTA, Leandro Leonardo (org.). Publicidade antirracista: Reflexões, caminhos e desafios. São Paulo: ECA-USP, 2019. p. 17-65.

LYSARDO-DIAS, Dylia. O discurso do estereótipo na mídia. In: EMEDIATO, Wander; MACHADO, Ida Lúcia; MENEZES, William (org). Análise do Discurso: Gêneros, Comunicação e Sociedade. Belo Horizonte: NAD/POSLIN/FALE-UFMG, 2006. p. 25-36.

MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. São Paulo: Pólen, 2019. (Coleção Feminismos Plurais).

MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil de Hoje. São Paulo: Global, 2006. (Coleção Para Entender).

NEGRITA BARDINET 1970s versus 1980s.The sugarcane collection, [s. l.], 21 out. 2015. Disponível em: https://sugarcanecollection.wordpress.com/tag/negrita/. Acesso em: 22 maio 2023.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de Empoderamento das mulheres. [s. l.]: ONU, 2017. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/cartilha_ONU_Mulheres_Nov2017_digital.pdf. Acesso em: 6 maio 2023.

RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SANT'ANA, Jonathas Vilas Boas de. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética. MARGENS - Revista Interdisciplinar, [s. l.], v. 11, n. 16, p. 175-192, jun. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/revistamargens/article/view/5391. Acesso em: 10 maio 2023.

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. História da beleza no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.

SANTOS, Raquel Amorim dos; BARBOSA E SILVA, Rosângela Maria de Nazaré. Racismo científico no Brasil: um retrato racial do Brasil pós-escravatura. Educar em Revista, Curitiba, v. 34, n. 68, p. 253-268, mar./abr. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/cmGLrrNJzVfsKXbPxdnLRxn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 15 maio 2023.

WINCH, Rafael Rangel; ESCOBAR, Giane Vargas. Os lugares da mulher negra na publicidade brasileira. Cadernos de Comunicação, [s. l.], v.16, n. 2, p. 227-245, jul./dez. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/ccomunicacao/article/view/8229. Acesso em: 11 maio 2023.

XAVIER, Giovana. História Social da Beleza Negra. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021.

Downloads

Publicado

2024-01-10

Como Citar

Stéfani Felício Lourenço, S., Ramalho Procópio Xavier, M., & Gonçalves Reis, A. C. (2024). A Considerações sobre a representação da pessoa negra na publicidade brasileira nos séculos XX e XXI. Letras De Hoje, 59(1), e44728. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44728