Genocídios, epistemicídios, ecocídios e o pensamento moderno

reflexões a partir de Solar de McEwan

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44155

Palavras-chave:

Antropoceno, Crise climática, Hiperobjetos, Solar, Ética

Resumo

O presente artigo é um exercício especulativo que parte do seguinte pressuposto: a fundamentação epistemológica da modernidade propiciou a emergência do evento Antropoceno. Embora o termo adquira ares de neutralidade, tendo sido primeiramente utilizado no âmbito das ciências ditas duras para designar a entrada em uma nova era geológica, o conceito escamoteia a cadeia de relações que ele próprio coloca em cena. Afinal, quem são os humanos que estão no cerne do Antropoceno? Ademais, tendo sido fruto, acidental ou não, do processo de modernização global, faz parte de um fenômeno maior de homogeneização de padrões e culturas. O estabelecimento de um padrão único – o homem branco ocidental – está por trás dos genocídios, epistemicídios e ecocídios que caracterizam a modernidade. Pretende-se, assim, analisar a forma como tais fenômenos (genocídios, epistemicídios e ecocídios) se entrelaçam e se amplificam com o advento do Antropoceno. Para tal, um diálogo será travado com diferentes saberes, a fim de garantir a imaginação especulativa necessária para se vislumbrar perspectivas para além do já estabelecido. Dessa maneira, o romance Solar, de Ian McEwan, será trazido para a discussão, uma vez que não somente traz como pano de fundo os efeitos da ação humana no planeta, como também tem como protagonista um cientista. A visão do homem da ciência, branco, heterossexual, europeu será o ponto de partida de nossa discussão. Afinal, pode a ciência se manter neutra em tempos de catástrofes planetárias? O presente texto, então, inscreve-se no seio de entrelaçamentos, junturas, emaranhamentos tão caros ao pensamento contemporâneo preocupado com formas menos antropocêntricas de estar no mundo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Tatiana de Freitas Massuno, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Doutora e Mestre em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), RJ, Brasil. Doutoranda em Bioética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Pós-doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ), RJ, Brasil. Professora Adjunta do Departamento de Letras e Comunicação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, Brasil.

Referências

CAVELL, Stanley. Disowning knowledge: in six plays of Shakespeare. New York: Cambridge University Press, 1987.

CHAKRABARTY, Dipesh. The climate of History: four theses. Critical Inquiry, Chicago, v. 35, n. 2, p. 197-222, 2009. Disponível em https://www.jstor.org/stable/10.1086/596640. Acesso em: 2 jun. 2023.

CLARK, Timothy. Ecocriticism on edge: the Anthropocene as a threshold concept. New York: Bloomsbury Academic, 2015.

CRUTZEN, Paul; STOERMER, Eugene. The anthropocene. Global Change Newsletter, n. 41, p. 17-18, 2000.

CURLEY, Edwin; KOIVUNIEMI, Minna. Descartes on the mind-body union: a different kind of dualism. In: GARBER, Daniel; RUTHERFORD, Donald (org.). Oxford Studies in Early Modern Philosophy. Oxford: Oxford University Press, 2015. v. 7. p. 83-122.

DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há mundos por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. 2. ed. Florianópolis: Instituto Socioambiental, 2017.

DESCARTES, René. Discurso do método; meditações; objeções e respostas; as paixões da alma; cartas. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

GHOSH, Amitav. The Great Derangement: climate change and the unthinkable. Chicago: The University of Chicago Press, 2016.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, [s.l.], v. 31, n. 1, p. 25-49, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v31n1/0102-6992-se-31-01-00025.pdf. Acesso em: 2 jun. 2023.

GROVE, Jairus. Savage Ecology: war and geopolitics at the end of the world. Londres: Duke University Press, 2019.

HAMILTON, Clive. Defiant earth: the fate of humans in the Anthropocene. Sydney: Allen & Unwin, 2017.

KELLISH, Jacqueline A. No Laughable Thing under the Sun’: Satire, Realism, and the Crisis of Climate Change in Ian McEwan’s Solar. Aesthetics of the Anthropocene: Articulating Geo-Logics in the Epoch of the New Human, 2013. Disponível em: https://sites.fhi.duke.edu/anthropocene/comedy-and-climate-crisis/. Acesso em: 25 jul. 2023.

LATOUR, Bruno. Facing Gaia: eight lectures on the new climatic regime. Cambridge: Polity, 2017.

LATOUR, Bruno. We don’t seem to live on the same planet. A Fictional Planetarium, [s.l.], 2019. http://www.brunolatour.fr/sites/default/files/downloads/162-SEVEN-PLANETS-DESIGN.pdf. Acesso em: 31 jul. 2023.

LATOUR, Bruno. We have never been modern. Cambridge: Harvard University Press, 1993.

MCEWAN, Ian. A boot room in the frozen North. Cape Farewell, [s.l.], 2005. Disponível em: https://capefarewell.com/explore/215-a-boot-room-in-the-frozen-north.html. Acesso em: 2 jun. 2023.

MCEWAN, Ian. Solar. Londres: Vintage Books, 2011.

MENELY, Tobias; TAYLOR, Jesse (org.). Anthropocene reading. Filadélfia: The Pennsylvania State University Press, 2017.

MOORE, Jason W. (ed.). Anthropocene or capitalocene? Nature, history, and the crisis of capitalism. Oakland: Pm Press, 2016.

MORTON, Timothy. Being Ecological. Cambridge: The MIT Press, 2018.

MORTON, Timothy. Hyperobjects: Philosophy and Ecology after the end of the world. Mineápolis: University of Minnesota Press, 2013.

OLIVEIRA, Fatima. Feminismo, luta anti-racista e bioética. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 73-107, 1995. Disponível em:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1775. Acesso em: 7 mar. 2021.

PAIXÃO, Marcelo. O justo combate: relações raciais e desenvolvimento em questão. Revista Simbiótica, Vitória, v. 2, n. 2, p. 1-49, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.47456/simbitica.v2i2.11721. Acesso em: 2 jun. 2023.

RADNER, Daisie. Descartes’ notion of the union of mind and body. Journal of the History of Philosophy, [s.l.], v. 9, p. 159-170, 1971. Disponível em: https://doi.org/10.1353/hph.2008.1109. Acesso em: 2 jun. 2023.

RORTY, Amélie. Descartes on Thinking with the Body. In: COTTINGHAM, John (org.). The Cambridge Companion to Descartes. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 371-392.

Downloads

Publicado

2023-09-21

Como Citar

de Freitas Massuno, T. (2023). Genocídios, epistemicídios, ecocídios e o pensamento moderno: reflexões a partir de Solar de McEwan. Letras De Hoje, 58(1), e44155. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44155

Edição

Seção

Seção Livre