Políticas da toxicidade

Práticas de convivência e hipointervenções em uma área continuamente poluída

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2021.2.35559

Palavras-chave:

Políticas da toxicidade, Risco, Hipointervenções, Violência lenta

Resumo

Este artigo analisa as estratégias e hipointervenções utilizadas pelos moradores da Fercal, no Distrito Federal, Brasil, para lidar com a presença ubíqua, desigual e contínua da poluição do ar por partículas totais em suspensão (PTS), derivada da atuação de duas fábricas de cimento locais, a Votorantim Cimento e a Cimento Planalto (Ciplan). A pesquisa foi operacionalizada através da realização de 30 entrevistas semi-estruturadas, entre os anos de 2017 e 2018. Levando em consideração o caráter lento e contínuo deste tipo de toxicidade, ressaltamos as relações de assimetria, sentimentos de desconfiança e de frustração com a insolubilidade da poluição do ar entre população, fábricas e o poder público, indicando que práticas de limpeza, de cuidado comunitário e negociações feitas diretamente com as empresas foram formas encontradas pelo público para permanecerem com alguma qualidade de vida em um local insalubre.

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Biografia do Autor

Carolina Faraoni Bertanha, Universidade de Brasília, ( UnB), Brasília, DF, Brasil.

Mestre em Sociologia, bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil; doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da mesma instituição.

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Publicado

2021-08-24

Como Citar

Bertanha, C. F. (2021). Políticas da toxicidade: Práticas de convivência e hipointervenções em uma área continuamente poluída. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 21(2), 320–333. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2021.2.35559