Heidegger e Paulo. Contração da temporalidade e religiosidade “escatológica” na situação do hos me paulino (1 Cor 7, 29-31)

Resumo

O artigo destaca a noção de temporalidade com base na interpretação fenomenológica do texto paulino de 1 Cor 7,29-31 na segunda parte da preleção friburgense do semestre de inverno de 1920/1921 intitulada “Introdução à Fenomenologia da Religião (GA 60, 119-121). Heidegger volta-se para o que unicamente faz do cristianismo um evento originariamente histórico, a saber: a fé cristã. Dentre os três fenômenos temporalmente eminentes presentes na segunda parte do curso (o ter-se-tornado [Gewordensein], o “como se não” [alsobnicht, hōsmē] e a espera da parusia) destacamos a partícula grega hōs mē de 1 Cor 7,29-31 como atuação autêntica do presente: a fórmula hōs mē  não tem somente um sentido negativo, mas para Paulo o “como se não” significa que o comportamento induzido pelo viver “como se não” não exclui o engajamento no mundo circundante (Umwelt) e mais precisamente contra ele. Explicitar esse “retorno” à situação fática que caracteriza a vida cristã tal como Paulo a viveu através da escrita de suas epístolas implica examinar, sucessivamente, os dois momentos fundamentais da fenomenologia do jovem Heidegger (1), o texto paulino a partir da relação entre concentração e tensão escatológicas (2), a fórmula hōs mē e o complexo realizador da vida cristã com base no horizonte escatológico (3) e, a guisa de conclusão, a relação entre “concepção prévia” e facticidade cristã com base na coesão estrutural entre religiosidade cristã originária, experiência fática da vida e temporalidade(4).