Crimes sexuais na ditadura civil-militar brasileira (1964-1985): perspectivas da violências institucional e de gênero

Autores

  • Rosa Maria Zaia Borges Universidade de São Paulo
  • Simone Schuck da Silva Universidade do Vale do Rio dos Sinos
  • Laura Gigante Albuquerque Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.15448/2177-6784.2016.1.23725

Palavras-chave:

crimes sexuais, violência institucional, violência de gênero, criminologia feminista.

Resumo

O artigo busca contextualizar as possíveis formas de abordar os crimes sexuais cometidos durante a ditadura civil-militar iniciada no Brasil em 1964. Considerando a importância do reconhecimento destes crimes como parte da violência estatal e institucional praticada, propõe-se a sua complementação a partir de uma perspectiva de gênero. Desde os aportes da criminologia feminista, o artigo questiona a universalização dos mecanismos utilizados para investigar os crimes cometidos durante o período ditatorial, chama a atenção
para a possibilidade (inaceitável, porém possível) de revitimização a partir da inadequação desses métodos e convoca ao desvelamento do posicionamento ideológico do Estado nas violências sexual e de gênero. O objetivo do artigo, assim, é questionar a necessária, porém insuficiente perspectiva tradicional de tratamento dos crimes sexuais cometidos durante o período, reafirmando seu aspecto de violência institucional, de responsabilidade do Estado, mas considerando a perspectiva de gênero, a fim de possibilitar a superação de vulnerabilidades históricas.

Biografia do Autor

Rosa Maria Zaia Borges, Universidade de São Paulo

Doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Professora do Curso de Direito e de Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Membro do Grupo de Estudos sobre Internacionalização do Direito e Justiça de Transição (IDEJUST).

Simone Schuck da Silva, Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Mestranda em Direito Público na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Segurança e Administração da Justiça Penal (GPESC/PUCRS). Advogada voluntária no G8-Generalizando do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (SAJU/UFRGS).

Laura Gigante Albuquerque, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializanda em Ciências Penais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Advogada criminalista.

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Publicado

2016-06-16

Edição

Seção

Dossiê Criminologia e Feminismo