Recusa da vacinação em área urbana do norte de Portugal

Autores

  • Margarida Silva Fonseca Serviço de Pediatria e Neonatologia; Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa http://orcid.org/0000-0001-5941-6922
  • Maria da Assunção L. N. Varela Unidade de Saúde Pública; Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Ocidental.
  • Assunção Frutuoso Departamento de Saúde Pública; Administração Regional de Saúde do Norte.
  • Maria de Fátima F. R. Pinto Monteiro Departamento de Pediatria; Unidade de Recursos Partilhados. Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Ocidental.

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-6108.2018.4.32152

Palavras-chave:

recusa de vacinação, hesitação vacinal, programas de imunização, pediatria, criança, adolescente.

Resumo

OBJETIVOS: Conhecer o número de recusas vacinais e investigar os motivos de não adesão à vacinação pelos pais de crianças e adolescentes residentes numa área urbana do norte de Portugal.

MÉTODOS: Estudo transversal com amostra obtida dos registros de crianças/adolescentes até os 14 anos, inscritos em unidades de saúde de uma área metropolitana da cidade do Porto, Portugal, pertencentes aos agrupamentos de centros de saúde Porto Ocidental, Porto Oriental, Gaia, Gondomar e Matosinhos, cujos pais recusaram alguma vacina do Programa Nacional de Vacinação, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2015. A caraterização da amostra e os motivos de recusa vacinal foram estudados através da aplicação de um questionário aos pais.

RESULTADOS: Foram identificados 150 casos de crianças/adolescentes aos quais os pais recusaram alguma vacina, numa população global de 103.406 crianças, resultando em uma taxa de recusa vacinal de 0,14%. A maior taxa ocorreu no agrupamento de centros de saúde Porto Ocidental: 0,31%. Entre os 150 casos, 86 pais aceitaram responder ao questionário, correspondendo a uma taxa de adesão de 64%. A mediana da idade das crianças/adolescentes cujos pais recusaram a vacinação foi de sete anos, sendo a maioria saudável e sem problemas perinatais. Todos os pais eram adultos, a maioria casados e do gênero feminino. A maioria tinha curso superior e encontrava-se em atividade profissional. O agrupamento de centros de saúde do Porto Ocidental foi aquele onde os pais que recusaram vacinas eram majoritariamente do sexo masculino, tinham nível acadêmico mais alto e eram mais ativos profissionalmente. A vacina com maior taxa de recusa foi a BCG, seguida da anti-papilomavírus humano e da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola. Os quatro principiais motivos de recusa vacinal referidos pelos pais foram: "as vacinas não são uma prioridade", "as vacinas são pouco seguras", "indicação do médico assistente" e "receio de efeitos colaterais". O motivo "indicação do médico assistente" referiu-se, em todos os casos, à vacina BCG.

CONCLUSÕES: Nesta população foi pequena a taxa de recusa vacinal; no entanto, com base nos resultados obtidos, podem ser dirigidos esforços de intervenção junto às famílias, visando combater os argumentos sem base científica e obter uma adesão inequívoca ao Programa Nacional de Vacinação em Portugal.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

World Health Organisation. Fact sheet: immunization coverage [Internet] [cited 2017 October 04]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs378/en/

World Health Organization, United Nations International Children's Emergency Fund, The World Bank. State of the World's Vaccines and Immunizations. 3rd ed. Geneva, Switzerland: World Health Organization; 2009.

Centralized information system for infectious diseases (CISID) online database: World Health Organization Regional Office for Europe [Internet]. Copenhagen; 2014 [cited 2018 April 16]. Available from: http://data.euro.who.int/cisid/

Portugal. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Vacinação 2012, Norma 040/2011 DGS [Internet]. Lisboa; 2011 [updated 2012 Jan; cited 2018 April 8]. Available from: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0402011-de-21122011-atualizada-a-26012012

Portugal. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Vacinação 2017, Norma 16/2016 DGS [Internet]. Lisboa; 2017 [updated 2017 Jul; cited 2018 April 10]. Available from: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0162016-de-16122016.aspx

Portugal. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Vacinação - Avaliação 2015 DGS [Internet]. Lisboa; 2016 [updated 2016; cited 2018 April 10]. Available from: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/boletim-vacinacao-n-10-abril-de-2016-pdf.aspx

Andre FE, Booy R, Bock HL, Clemens J, Datta SK, John TJ: Vaccination greatly reduces disease, disability, death and inequity worldwide. Bull World Health Organ. 2008;86: 140-6. https://doi.org/10.2471/BLT.07.040089

Berezin M, Eads A. Risk is for the rich? Childhood vaccination resistance and a culture of health. Soc Sci Med. 2016;165:233-45. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2016.07.009

MacDonald NE. Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants. Vaccine. 2015;33:4161-4. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2015.04.036

Larson HJ, Jarret C, Eckersberger E, Smith D, Paterson P. Understanding vaccine hesitancy around vaccines and vaccination from a global perspective: A systematic review of published literature, 2007–2012. Vaccine. 2014;32:2150-9. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2014.01.081

Favin M, Steinglass R, Fields R, Banerjee K, Sawhney M. Why children are not vaccinated: A review of the grey literature. Int Health. 2012;4:229-38. https://doi.org/10.1016/j.inhe.2012.07.004

Lim WY, Amar-Singhab HSS, Jeganathana N, Rahmatc H, Mustafa N.A, Mohd Yusof FS, Rahman R. Itam S, Chan CH, N-Julia MS. Exploring immunisation refusal by parents in the Malaysian context. Cogent Medicine. 2016;3(1):1142410. https://doi.org/10.1080/2331205X.2016.1142410

Ołpiński M. Anti-Vaccination Movement and Parental Refusals of Immunization of Children in USA. Pediatria Polska. 2012;87:381-5. https://doi.org/10.1016/j.pepo.2012.05.003

European Centre for Disease Prevention and Control. Rapid literature review on motivating hesitant population groups in Europe to vaccinate. Stockholm: ECDC; 2015.

Dubéa E, Gagnona D, Nickelsd E, Jeramd S, Schuster M. Mapping vaccine hesitancy Country-specific characteristics of a global phenomenon. Vaccine. 2014;32:6649-54. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2014.09.039

Larson HJ, Jarrett C, Eckersberger E, Smith D, Paterson P. Understanding vaccine hesitancy around vaccines and vaccination from a global perspective: A systematic review of published literature. Vaccine. 2014;32:2150-9. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2014.01.081

Santos P, Hespanhol A. Recusa vacinal - o ponto de vista ético. Rev Port Med Geral Fam. 2013;29:328-33. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v29i5.11167

Downloads

Publicado

2018-12-21

Como Citar

Fonseca, M. S., Varela, M. da A. L. N., Frutuoso, A., & Pinto Monteiro, M. de F. F. R. (2018). Recusa da vacinação em área urbana do norte de Portugal. Scientia Medica, 28(4), ID32152. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2018.4.32152

Edição

Seção

Artigos Originais