Utilização do serviço de urgência pediátrica: a experiência de um centro português

Autores

  • Margarida S. Rafael Centro Hospitalar Barreiro-Montijo
  • Sofia Portela ISCTE Business School, Lisboa, Portugal
  • Paulo Sousa Escola Nacional de Saúde Pública – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal
  • Adalberto Campos Fernandes Escola Nacional de Saúde Pública – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-6108.2017.1.24919

Palavras-chave:

medicina de urgência, serviços médicos de emergência, pediatria, uso excessivo de produtos e serviços de saúde.

Resumo

DOI: 10.15448/1980-6108.2017.1.24919

Objetivos: A elevada afluência aos serviços de urgência pediátrica tem gerado muita preocupação entre profissionais de saúde e administradores hospitalares. O objetivo deste estudo foi compreender as características da afluência a um serviço de urgência pediátrica e verificar se existe utilização injustificada do mesmo.

Métodos: Realizou-se um estudo retrospectivo no qual foram analisados todos os episódios de urgência pediátrica ocorridos durante o ano de 2012 em um hospital distrital da área metropolitana de Lisboa, Portugal. Os dados foram obtidos pelo serviço de informática do hospital, já estando os episódios classificados segundo o sistema de triagem de Manchester adaptado para Portugal – emergente, muito urgente, urgente, pouco urgente, não urgente e não classificável, o qual é atribuído a cada doente no momento de entrada no serviço de urgência pediátrica. Definiu-se como episódio de urgência não justificado todos aqueles classificados como pouco urgentes e não urgentes. Os dados foram trabalhados de forma totalmente anônima, por meio do programa IBM SPSS Statistics e utilizando os testes estatísticos qui-quadrado e ANOVA one-way, com nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados: Foi analisada uma amostra de 37.099 episódios de atendimento no serviço de urgência pediátrica, dos quais 19.478 (53%) corresponderam a indivíduos do sexo masculino. A mediana de idade foi 4 anos (intervalo interquartil 1-9) e 78,4% tinham até 10 anos. De todos os episódios, 98,8% foram classificados entre três categorias: muito urgentes, urgentes e pouco urgentes, sendo 15.470 (41,7%) urgentes ou muito urgentes e 21.177 (57,1%) pouco urgentes. Destes pacientes, 27.294 (73,6%) recorreram ao serviço de urgência durante a semana e 28.679 (77,3%) entre as 10 e as 24 horas. Verificou-se que em 90,8% dos episódios muito urgentes, 97,1% dos urgentes e 99,4% dos pouco urgentes os pacientes tiveram alta sem necessitar de hospitalização.

Conclusões: Mais de metade das crianças que utilizaram o serviço de urgência pediátrica do hospital em estudo apresentavam situações pouco urgentes e praticamente todas essas tiveram alta para o domicílio, com indicação para seguimento pelo médico assistente. Grande parte dos atendimentos ocorreu durante o horário de funcionamento dos centros de saúde.

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Biografia do Autor

Sofia Portela, ISCTE Business School, Lisboa, Portugal

Departamento de Métodos Quantitativos para Gestão e Economia

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Publicado

2017-01-25

Como Citar

Rafael, M. S., Portela, S., Sousa, P., & Fernandes, A. C. (2017). Utilização do serviço de urgência pediátrica: a experiência de um centro português. Scientia Medica, 27(1), ID24919. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2017.1.24919

Edição

Seção

Artigos Originais