A voz-práxis estético-literária indígena como ativismo e militância: algumas reflexões a partir da literatura indígena brasileira atual

Autores

  • Leno Francisco Danner Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
  • Julie Stéfane Dorrico Peres Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
  • Fernando Danner Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2018.3.30811

Palavras-chave:

Literatura indígena, Literatura de minorias, Comunidade-Indivíduo, Ativismo, Militância.

Resumo

Defendemos que a voz-práxis estético-literária das minorias e, no caso, do/as intelectuais ou escritores/as indígenas é marcada por quatro características fundamentais que lhe definem a constituição, o sentido e a vinculação epistemológico-políticos: parte da condição política e politizante, carnal e vinculada das e como minorias, que são uma construção política, tanto em termos de singularidade antropológica quanto sob a forma de exclusão, silenciamento, marginalização e violência que sofrem; possui uma ligação e uma dependência inextricáveis entre comunidade grupo-tradição e indivíduo, fundando e dinamizando um eu-nós lírico-político que não dissocia pertença à comunidade e ao grupo relativamente à experiência individual, recusando, com isso, a perspectiva de uma subjetividade absoluta-desvinculada e voyeurista-apolítica; vai da afirmação da tradição comunitária e da singularidade antropológica à crítica do presente, a tradição e a pertença comunitárias e a singularidade antropológica como crítica do presente; e institui o ativismo e a militância como seu núcleo, sentido e direcionamento, de modo a afirmar-se como uma vozpráxis política comprometida com a defesa e a promoção do grupo de que faz parte. Em nossa proposta, que está embasada tanto na interpretação de escritores/as indígenas brasileiros/as quanto na apropriação do aparato teórico produzido em termos de estudos literários e culturais póscoloniais, e que tem por base uma análise bibliográfica desse arcabouço teórico, argumentaremos acerca da importância de se correlacionar a produção estético-literária das minorias (e, no caso, dos/as indígenas) com e como crítica do presente e politização radical, sob a forma de ativismo, de militância e de engajamento, seja como condição para o entendimento de suas especificidades e novidades, seja como forma de sua vinculação aos debates estéticos, epistemológicos e políticos em termos de esfera pública, uma vez que esses/as escritores/as de minorias (e, no caso, indígenas) objetivam exatamente politizar e publicizar a história, a situação e as reivindicações de suas comunidades e de seus grupos por meio da arte-literatura.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Leno Francisco Danner, Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Doutor em Filosofia (PUC-RS). Professor de Filosofia e de Sociologia na Fundação Universidade Federal de Rondônia.

Julie Stéfane Dorrico Peres, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Doutoranda em Teoria Literária pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). 

Mestre em Estudos Literários e Graduada em Letras Português e suas respectivas Literaturas pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Fernando Danner, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Doutor em Filosofia (PUCRS). Professor de Filosofia no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Referências

ALMEIDA, Maria Inês de. Desocidentada: experiência literária em terra indígena. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

ALMEIDA, Maria Inês de; QUEIROZ, Sônia. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.

BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe. Princeton: Princeton University Press, 2000.

CHAKRABARTY, Dipesh. Habitations of modernity: essays in the wake of subaltern studies. Chicago: University of Chicago Press, 2002.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte, 2012.

DANNER, Leno Francisco; DORRICO PERES, Julie. A literatura indígena como crítica da modernidade: sobre xamanismo, normatividade e universalismo – notas desde ‘A queda do céu: palavras de um xamã yanomami’, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, O Eixo e a Roda, UFMG, Belo Horizonte, v. 26, n. 03, 2017, p. 129-156.

DANNER, Leno Francisco; BAVARESCO, Agemir; DANNER, Fernando. A estética das minorias contra a correlação de institucionalismo forte, cientificismo e tecnicalidade: sobre a voz-práxis das minorias como arte-literatura, Clareira – Revista de Filosofia da Região Amazônica, Porto Velho (RO) v. 4, n. 1, 2017, p. 15-48.

DUSSEL, Enrique. 1492, o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.

FANON, Franz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

GRAÚNA, Graça. Contrapontos de literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

HONNETH, Axel. Reificación: un estudio en la teoría del reconocimiento. Buenos Aires: Katz, 2007.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Encontros. Rio de Janeiro: Azougue, 2015.

MBEMBE, Achille. On the postcolony. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 2001.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MIGNOLO, Walter D. La idea de América latina: la herida colonial y la opción decolonial. Barcelona: Editorial Gedisa, 2007.

MUNDURUKU, Daniel. O caráter educativo do movimento indígena brasileiro (1970-1990). São Paulo: Paulinas, 2012.

MUNDURUKU, Daniel. Memórias de índio: uma quase autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016.

MUNDURUKU, Daniel. Mundurukando II: roda de conversa com educadores. Lorena: UK’A Editorial, 2017.

MUNDURUKU, Daniel. Visões de ontem, hoje e amanhã: é hora de ler as palavras. In: POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2004, p. 15-16.

POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2004.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y modernidad/racionalidad, Perú Indig., Lima, v. 13, n. 29, p. 11-20, 1992.

SPIVAK, Gayatri C. Pode o Subalterno Falar? Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

THIÉL, Janice. Pele silenciosa, pele sonora: a literatura indígena brasileira em destaque. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

Texto disponível na Internet:

GRAÚNA, Graça. “Escrevivência indígena”. In: Blog Graça Graúna, 28 set. 2017.

Disponível em: <http://ggrauna.blogspot.com/2017/09/escrevivencia-indigena.html>. Acesso em: 10 ago. 2018.

Downloads

Publicado

2018-12-19

Como Citar

Danner, L. F., Dorrico Peres, J. S., & Danner, F. (2018). A voz-práxis estético-literária indígena como ativismo e militância: algumas reflexões a partir da literatura indígena brasileira atual. Letrônica, 11(3), 375–396. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2018.3.30811