Variação discursiva e gramaticalização: o controle de condicionamentos semântico-pragmáticos e o princípio da persistência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2017.1.25079

Palavras-chave:

Variação discursiva, Gramaticalização, Princípio da persistência

Resumo

À luz da sociolinguística variacionista e de estudos sobre a gramaticalização, considero os conectores sequenciadores e, aí e então como variantes da variável discursiva “sequenciação retroativo-propulsora de informações”. Os dados são oriundos de 24 entrevistas sociolinguísticas provenientes do Banco de Dados FALA-Natal. Tenho os seguintes objetivos: (i) analisar os padrões de distribuição dos conectores sequenciadores e, aí e então quanto a um grupo de fatores de natureza semântico-pragmática; (ii) relacionar indícios diacrônicos referentes ao processo de gramaticalização sofrido por cada conector a seus padrões de distribuição sincrônica. Os resultados revelam que o grupo de fatores “relação semântico-pragmática” é bastante significativo no condicionamento da variável discursiva investigada. Com base nesses resultados, observei que o uso  dos conectores sequenciadores parece ser motivado pelo princípio da persistência, uma vez que esses conectores são, em geral, favorecidos por relações semântico-pragmáticas que manifestam alguns traços em comum a suas fontes diacrônicas de gramaticalização. 

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Biografia do Autor

Maria Alice Tavares, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Doutorado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora associada II do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da mesma instituição.

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Publicado

2017-12-27

Como Citar

Tavares, M. A. (2017). Variação discursiva e gramaticalização: o controle de condicionamentos semântico-pragmáticos e o princípio da persistência. Letrônica, 10(1), 187–199. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2017.1.25079