A sensibilidade de bebês brasileiros a pistas prosódicas de fronteiras de sintagma entoacional na fala dirigida à criança

Autores

  • Ícaro Oliveira Silva Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Maria Cristina Lobo Name UFJF

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2014.1.16855

Palavras-chave:

Aquisição da Linguagem, Fonologia, Prosódia, Sintagma Entoacional, Português Brasileiro.

Resumo

O presente trabalho investiga se bebês brasileiros são capazes de analisar acusticamente o sinal linguístico, de modo a identificar os limites de palavras e sentenças de sua língua (cf. os constituintes prosódicos em NESPOR e VOGEL, 1986; PIERREHUMBERT, 1980; LADD, 2008). Focalizamos a sensibilidade a propriedades prosódicas de fronteiras de Sintagma Entoacional (I) em enunciados de Fala Dirigida à Criança (FDC) e seu uso na segmentação e reconhecimento lexical pelo bebê. Duas atividades foram desenvolvidas: a primeira analisa enunciados de FDC coletados em situações de interação entre mãe e bebês brasileiros, de modo a identificar as propriedades prosódicas que delimitam as fronteiras de I; a segunda, experimental, verifica se bebês brasileiros, com média de 13 meses de idade, são sensíveis a essas propriedades e se as utilizam para identificar uma palavra previamente familiarizada. Os resultados sugerem que tais propriedades são percebidas pelos bebês, que fazem uso delas como pistas para segmentar o continuum sonoro em unidades gramaticalmente significativas. Defendemos que as informações acústicas disponíveis nas fronteiras de constituintes prosódicos são ampliadas na FDC (SEIDL; CRISTIÀ, 2008) e podem facilitar o desencadeamento do processo de aquisição da linguagem (cf. Hipótese do Bootstrapping Prosódico: MORGAN; DEMUTH, 1996; CHRISTOPHE et al., 1997). 

  

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BISOL, L. Os constituintes prosódicos. In: _____ (Org.) Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 3. ed. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2001, p. 259-271.

BOERSMA, P.; WEENICK, D. PRAAT: doing phonetics by computer (version: 5.3.53), 2013. Disponível em: http://www.praat.org/.

CAVALCANTE, M. C. B.; BARROS, A. T. M. C. Manhês: qualidade vocal e deslocamento na dialogia mãe-bebê. Veredas, Edição Especial VIII ENAL – II EIAL, 2012, p. 25-39.

CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge, Mass: MIT Press, 1995.

CHRISTOPHE, A.; DUPOUX, E.; BERTONCINI, J.; MEHLER, J. Do infants perceive word boundaries? An empirical study of the bootstrapping of lexical acquisition. Journal of The Acoustical Society of America, v. 95, 1994, p. 1570-1580.

CHRISTOPHE, A.; GUASTI, T.; NESPOR, M.; DUPOUX, E.; VAN OOYEN, B. Reflections on phonological bootstrapping: its role for lexical and syntactic acquisition. Language and Cognitive Processes, v. 12, n. 5/6, p. 585-612, 1997.

COHEN, L. B.; ATKINSON, D. J.; CHAPUT, H.H. Habit 2000: A new program for testing infant perception and cognition (Version 2.25c) [Computer software]. Austin: The University of Texas.

COOPER, W. E.; PACCIA-COOPER, J. Syntax and speech. Cambridge: Harvard University Press, 1980.

COOPER, W. E.; SORENSEN, J. M. Fundamental frequency contours at syntactic boundaries. Journal of The Acoustical Society of America, v. 62, p. 683-692, 1977.

CORRÊA, L. M. S. Conciliando processamento linguístico e teoria de língua no estudo da aquisição da linguagem. In: _____. (Org.) Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006, p. 21-78.

CORRÊA, L. M. S., AUGUSTO, M. R. A. Computação linguística no processamento on-line: soluções formais para a incorporação de uma derivação minimalista em modelos de processamento. Cadernos de Estudos Linguísticos (UNICAMP), p. 167-183, 2007.

FERNALD, A.; TAESCHER, T.; DUNN, J.; PAPOUSEK, M.; BOYSSON-BARDIES, B. D.; FUKUI, I. A cross-language study of prosodic modifications in mothers’ and fathers’ speech to preverbal infants. Journal of Child Language, v. 16, p. 477-501, 1989.

FERNALD, A.; HURTADO, N. Names in frames: Infants interpret words in sentence frames than words in isolation. Developmental Science, v. 9, p. 33-40, 2006.

FROTA, S. Prosody and focus in European Portuguese: Phonological phrasing and intonation. New York: Garland Publishing, 2000.

FROTA, S.; BUTLER, J.; VIGÁRIO, M. Infant’s perception of intonation: Is it a statement or a question? The Official Journal of The International Society on Infant Study, p. 1-20, 2013.

GOLDMAN-EISLER, F. Pauses, clauses, sentences. Language and Speech, v. 15, 1972, p. 103-113.

GOUT, A.; CHRISTOPHE, A.; MORGAN, J. Phonological phrase boundaries constrain lexical access: II Infant data. Journal of Memory and Language, v. 51, p. 548-567, 2004.

GUSSENHOVEN, C. The phonology of tone and intonation. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

JUSCZYK, P. W.; KEMLER-NELSON, D. G.; HIRSH-PASEK, K.; KENNEDY, L.; WOODWARD, A.; PIWOZ, J. Perception of acoustic correlates of major phrasal units by young infants. Cognitive Psychology, v. 24, p. 252-293, 1992.

LADD, D. R. Intonational Phonology. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

LADEFOGED, P. Vowels and consonants: An introduction to the sounds of languages. Oxford: Blackwells, 2001.

LEE, S.; DAVIS. B. L.; MACNEILAGE, P. F. Segmental properties of input to infants: a study of Korean. Journal of Child Language, v. 35, n. 3, p. 591-617, 2008.

MANNEL, C.; FRIEDERICI, A. D. Pauses and Intonational Phrasing: ERP Studies in 5-month-old German infants and adults. Journal of Cognitive Neuroscience, v. 21, n. 10, p. 1988-2006, 2009.

MATSUOKA, A.; NAME, M. C. O uso de pistas prosódicas na identificação do adjetivo por crianças e adultos falantes do PB. Anais do VII Congresso Internacional da ABRALIN, Curitiba, p. 577-587, 2011.

MCCLELLAND, J. L.; ELMAN, J. L. The trace model of speech perception. Cognitive Psychology, v. 18, p. 1-86, 1986.

MEHLER, J.; CHRISTOPHE, A. Language in the infant’s mind. Philosophical Transactions: Biological Sciences, v. 346, n. 1315, p. 13-20, 1994.

MORGAN, J.L.; DEMUTH, K. Signal to syntax: An overview. In: (Eds.) Signal to syntax: Bootstrapping from speech to grammar in early acquisition. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates Inc., 1996, p. 1-22.

NAME, M. C. O que nos dizem os resultados experimentais sobre a percepção da fala pelo bebê. Veredas, Edição Especial VIII ENAL – II EIAL, p. 282-295, 2012.

NAME, M. C.; CORRÊA, L. M. S. Explorando a escuta, o olhar e o processamento sintático: metodologia experimental para o estudo da aquisição da língua materna em fase inicial. In: CORRÊA, L. M. S. (Org.) Aquisição da Linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006, p. 79-100.

NESPOR, M.; VOGEL, I. Prosodic Phonology: with a new foreword. Dordrecht-Holland: Foris Publications, 1986.

NORRIS, D. G. Shortlist: a connectionist model of continuous speech recognition. Cognition, v. 52, p. 189-234, 1994.

OCHS, E.; SCHIEFFELIN, B. B. O impacto da socialização da linguagem no desenvolvimento gramatical. In: FLETCHER, P.; MACWHINNEY, B. (Orgs.) Compêndio da Linguagem da Criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

PIERREHUMBERT, J. The phonology and phonetics of English intonation. PhD Thesis. Massachussets: MIT, 1980.

SCARPA, E.; FERNANDES-SVARTMAN, F. Entoação e léxico inicial. Veredas, Edição Especial VIII ENAL – II EIAL, p. 40-54, 2012.

SCOTT, D. Durations as a cue to the perception of a phrase boundary. Journal of the Acoustical Society of America, v. 71, p. 996-1007, 1982.

SEIDL, A.; CRISTIÀ, A. Developmental changes in the weighting of prosodic cues. Developmental Science, v. 11, n. 4, p. 596-606, 2008.

SELKIRK, E. O. Phonology and syntax: the relation between sound and strucuture. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.

SEVERINO, C. S. Fronteiras prosódicas e desambiguação no Português Europeu. Dissertação de mestrado. Universidade de Lisboa, 2011.

SILVA, Í. O. A sensibilidade de bebês brasileiros a fronteiras de sintagma entoacional: a prosódia nas fases iniciais da aquisição da linguagem. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2014.

SNOW, C. E. Mothers’ speech to children learning language. Child Development, v. 43, p. 549-565, 1972.

SODERSTROM, M. Beyond babytalk: Re-evaluating the nature and content of speech input to preverbal infants. Developmental Review, v. 27, p. 501-532, 2007.

WEPPELMAN, T. L.; BOSTOW, A.; SCHIFFER, R.; ELBERT-PEREZ, E.; NEWMAN, R. S. Language & Communication, v. 23, p. 63-80, 2003.

Downloads

Publicado

2014-07-09

Como Citar

Silva, Ícaro O., & Lobo Name, M. C. (2014). A sensibilidade de bebês brasileiros a pistas prosódicas de fronteiras de sintagma entoacional na fala dirigida à criança. Letrônica, 7(1), 4–25. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2014.1.16855