Os Vandrés do sertão: música sertaneja, ufanismo e reconstruções da memória na redemocratização

Autores

  • Gustavo Alves Alonso Ferreira Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-864X.2017.2.25062

Palavras-chave:

Música sertaneja, Ditadura, Redemocratização, Resistência

Resumo

A música sertaneja foi, em grande parte, embora não somente, marcada pelo apoio ao regime ditatorial inaugurado em 1964. Assim como a quase totalidade dos gêneros musicais brasileiros, muitos artistas sertanejos apoiaram ufanistamente o regime. Este artigo visa mostrar como os músicos sertanejos reconstruíram sua relação com a memória do período ditatorial, especialmente a partir dos anos 1980, quando se engajaram no processo de redemocratização, apagando laços com o passado apologeta. Mesmo fazendo tal percurso comum a quase totalidade da sociedade brasileira, os sertanejos não conseguiram ser vistos como artistas “politizados” e permaneceram com a pecha de “adesistas” por longos anos, tema que será problematizado neste artigo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gustavo Alves Alonso Ferreira, Universidade Federal de Pernambuco

Professor efetivo da UFPE no Curso de Comunicação do departamento do Núcleo de Design do Centro Acadêmico do Agreste/Caruaru. Doutor em Historia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor de "Cowboys do Asfalto: música sertaneja e modernização brasileira" (2015), tese publicada pela editora Civilização Brasileira. Fez doutorado-sanduíche na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris-França). Mestre pela UFF, a dissertação de mestrado foi publicada sob o título de "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", pela Editora Record em 2011. De 2014 a 2015 foi bolsista de pós-doutorado na Unisinos/RS. Em 2014 fez pós-doutorado na Universidad de Buenos Aires (UBA). De agosto de 2012 a janeiro de 2014 foi bolsista de fixação de doutor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Foi professor temporário do Depto. de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) entre julho de 2011 e agosto de 2012. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República, música popular, História Cultural e Cultura de Massa. Contato: [email protected]

Referências

ALONSO, Gustavo. Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga. Rio de Janeiro: Record, 2011a.

______. Bob Dylans do sertão: tropicália, MPB e música sertaneja. In: REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão. Araraquara, v. 3, n.2, jan.-jul., 2011b. p. 222-235.

______. O sertão na televisão: música sertaneja e Rede Globo. In: Revista Contemporânea, Niterói, v. 1, n. 1, p. 222-235, 2011c.

______. Jeca Tatu e Jeca Total: a construção da oposição entre música caipira e música sertaneja na academia paulista (1954- 1977). In: Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 2, n. 2, p. 439-463, 2012a.

______. O sertão vai à faculdade: o sertanejo universitário e o Brasil dos anos 2000. In: Revista Perspectiva Histórica. Salvador, v.2, n.2, 2012b. p. 99-111.

______. Ame-o ou ame-o: música popular e ufanismo durante a ditadura nos anos 70. In: Boletim Tempo Presente (UFRJ). v. 7, 2013a.

______. O píer da resistência: contracultura, tropicália e memória no Rio de Janeiro. In: Achegas.net, v. 1, p. 44-71, 2013b.

______. Oposição no sertão: a construção da distinção entre música caipira e música sertaneja. In: Outros Tempos, São Luis, v. 10, n. 15, p. 122-145, 2013c.

______. Os caipiras chiques: a relação da música rural e a MPB nos anos 80. In: Tempo da Ciência (Unioeste), Cascavel, v. 20, n. 39, p. 113-140, 2013d.

______. Cowboys do asfalto: música sertaneja e modernização brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

ALEM, João Marcos. O caipira e o country: a nova ruralidade brasileira. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.

ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro, não: música popular

cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2003.

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. M.; AMADO, J. (Coord.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1996.

CALDAS, Waldenyr. Acorde na aurora: música sertaneja e indústria cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.

COUGO JUNIOR, Francisco Alcides. Canta meu povo: uma interpretação histórica sobre a produção musical de Teixeirinha (1959-1985). Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997.

GUIMARÃES, Juarez Rocha; PAULA, Delsy Gonçalves de; STARLING, Heloisa Maria Murgel (Org.). Sentimento de reforma agrária, sentimento de República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

MARTINS, José de Souza. Música sertaneja: a dissimulação na linguagem dos humilhados. In: Capitalismo e tradicionalismo. São Paulo: Pioneira, 1975. p. 103‑161.

MÉDICI, Emílio Garrastazu. A verdadeira paz. Brasília: Imprensa Nacional, 1970.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

MOORE JR., Barrington. Injustiça: as bases sociais da obediência e da revolta. São Paulo: Brasiliense, 1987.

MOREIRA, José Roberto; COSTA, Luíz Flávio de Carvalho (Org.). Mundo rural e cultura. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). O golpe e a ditadura militar: 40 anos depois (1964-2004). Bauru, SP: Edusc, 2004.

REIS FILHO, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

ROLLEMBERG, Denise. Esquecimento das memórias. In: MARTINS FILHO, J. R. (Org.). O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas. São Carlos: EdUFSCar, 2006.

SCHWARZ, Roberto. Remarques surlaculture et la politique au Brésil, 1964-1969. In: Les Temps Modernes, Paris, n. 288, jul. 1970.

STARLING, Heloísa. Canto do povo de um lugar. In: PAULA, Delsy Gonçalves de; STARLING, Heloisa Maria Murgel; GUIMARÃES, Juarez (Org.). Sentimento de Reforma Agrária, Sentimento de República. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. p. 302-345.

Fontes

Artigos de revista ou colunas de jornal:

O Globo, Rio de Janeiro, 25 abr. 1972.

Sem autor. “Ouro para o bem do Brasil – São Paulo repete 32”, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 13 jun. 1964, p. 64.

Sem autor. “A toada engajada”, Veja, São Paulo, 17 ago. 1988, p. 116-117.4

Sem autor. “Teixeirinha quer eleições diretas”, Folha da Tarde, São Paulo, 17 jan. 1984. Apud: COUGO JR., 2010, p. 139.

Músicas citadas:

“A bailarina” (Marciano/Darci Rossi/Sargento Oliveira), João Mineiro & Marciano, LP Esta noite como lembrança, Copacabana, 1980.

“A coisa tá feia” (Tião Carreiro/Lourival dos Santos) Tião Carreiro & Pardinho, LP No som da viola, Continental, 1983.

“A grande esperança” (Goiá/Francisco Lázaro), Chico Rey & Paraná, LP Quem será seu outro amor?, Sertanejo/ Chantecler, 1987.

“A grande esperança” (Goiá/Francisco Lázaro), Mary Terezinha, LP Kilômetro 1, Musicolor/ Continental, 1987.

“Amigo lavrador” (Moacyr dos Santos e Jacozinho), LP Jacó & Jacozinho 76, Continental.

“Anistia de amor” (Darci Rossi/Dalvan/Marciano), LP Anistia de amor, Sertanejo/Chantecler, 1983.

“Bendito seja o Mobral” (Tonico/Tinoco/José Caetano Erba), Tonico & Tinoco, Cp., Continental, 1972.

“Boia‑fria” (Moacyr dos Santos/Jacó), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.

“Brasil caboclo exportação” (Miltinho), LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.

“Cavalo enxuto” (Moacyr dos Santos/Lourival dos Santos), Jacó & Jacozinho, LP Novos sucessos, Continental, 1969.

“Diretas já” (Mary Terezinha/Ivan Trilha), Mary Terezinha, LP Kilômetro1, Musicolor/ Continental, 1987.

“É isto que o povo quer” (Lourival dos Santos/Tião Carreiro/ Carlos Compri), LP Tião Carreiro e Pardinho: A caminho do sol, Chantecler, 1973.

“Esperança do Brasil" (Nhô Crispim/Tonico), Tonico & Tinoco, LP 20 anos, Continental, 1964.

“Esperança do Brasil" (Nhô Crispim/Tonico), Tonico & Tinoco, LP A marca da ferradura, Continental, 1971.

“Espinheira” (Manoelito Nunes/Dalvan), Duduca & Dalvan, LP Espinheira, 1984.

“Filho de pobre” (Moacyr dos Santos/Jacó), Jacó & Jacozinho, LP Ninho de cobra, Continental, 1975.

“Gente da minha terra” (Goiá/Almir/Pereirinha), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.

“Herói da pátria” (Dino Franco), Biá & Dino Franco, LP O preço da ambição, Chantecler, 1973.

“Homem de cor” (Roceri/Barrerito/Paulo Roberto Aiello), Trio Parada Dura, LP Último adeus, Copacabana, 1981.

“Ladrão de terra” (Teddy Vieira/Moacir dos Santos), Luisinho & Limeira, Cp. 78 RPM, Odeon, 1958.

“Levanta patrão” (Lourival dos Santos/Tião Carreiro), Tião Carreiro & Pardinho, Tião Carreiro e Pardinho: Duelo de amor, Chantecler, 1975.

“Longe do asfalto” (Moacyr dos Santos/Jacozinho), Jacó & Jacozinho, LP Ninho de cobra, Continental, 1975.

“Mágoa de boiadeiro” (Nonô Basílio/Índio Vago), Pedro Bento, Zé da Estrada & Celinho, LP Mágoas de boiadeiro, Beverly, 1971.

“Marcha do tri” (Tonico/Tinoco/Pedro Capeche), Tonico & Tinoco, Cp., Continental, 1970.

“Massa falida” (Domiciano), Duduca & Dalvan, LP Massa falida, Chantecler, 1986.

“Natal de um órfão” (Alvimar de Oliveira/Creone/Barrerito), Trio Parada Dura, LP Mineiro não perde trem, Copacabana, 1974.

“Ninguém quis dormir” (Darci Rossi/Chitãozinho), Chitãozinho & Xororó, LP Sessenta dias apaixonado, Copacabana, 1979.

“Novo rumo” (Dalvan), Dalvan, LP Novo rumo, Alvorada/Chantecler, 1986.

“O caipira que foi na Lua” (Martins Neto/Moreno), Moreno & Moreninho, LP 20 anos, Continental, 1970.

“O dinheiro compra tudo” (Luis de Castro/Benedito Seviero), Chitãozinho & Xororó, LP Chitãozinho & Xororó, Copacabana, 1986.

“O doutor e a empregada” (Roniel/Augusto Alves Pinto), Trio Parada Dura, LP Barco de papel, Copacabana, 1984.

“Osso duro de roer” (Antônio Ventura Filho/Zé Paulo/Milton José), Tião Carreiro & Pardinho, LP A majestade o “pagode”, Continental, 1988.

“Ouro para o bem do Brasil” (Moreno e Moreninho) Moreno & Moreninho, Cp. 78 RPM, Sertanejo, 1964.

“Papai Noel” (Teixeirinha), Teixeirinha, LP Última tropeada, Copacabana, 1968.

“Para não dizer que não falei de flores” (Geraldo Vandré), Duduca & Dalvan, LP Espinheira, 1984.

“Pensão da rua Aurora” (Tony Damito/Sebastião Ferreira da Silva), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1972.

“Presidente Médici” (Teixeirinha), Teixeirinha, LP O internacional, Continental, 1973, LPS 22001.

“Quero terra” (Dalvan/José Sanches), Dalvan, LP Desencontros, 1988, Alvorada/Chantecler, 1988.

“Saudade de minha terra” (Belmonte/Goiá), Belmonte e Amaraí, LP Saudade de minha terra, Continental, 1967.

“Sesquicentenário” (Tonico/Tinoco), Tonico & Tinoco, Cps. Continental, 1972, CS‑ 674.

“Transamazônica” (Tapuã/Geraldo Aparecido Borges), LP Minha Terra, RCA, 1971.

“Trem da vida (Estação da Luz)” (Nino/Dalvan), Dalvan, LP Dalvan, Alvorada/Chantecler, 1987.

“Vida de operário” (Marumby/D. Hilário/Nhô Neco), LP Tonico & Tinoco: 28 ANOS: Minha terra, minha gente, Continental, 1970.

Downloads

Publicado

2017-06-05

Como Citar

Ferreira, G. A. A. (2017). Os Vandrés do sertão: música sertaneja, ufanismo e reconstruções da memória na redemocratização. Estudos Ibero-Americanos, 43(2), 458–471. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2017.2.25062

Edição

Seção

Dossiê: História, cotidiano e memória social: a vida comum sob as ditaduras no século XX